O gênio Lionel Messi e o preciso frentista da esquina

    (*) Ucho Haddad –

    (Detalhe de ilustração de Cássio Scavone, o Manga)
    Com apenas 24 anos, o argentino Lionel Messi foi eleito pela terceira vez consecutiva como o melhor jogador de futebol do planeta. Feito igual somente o francês Michel Platini conquistou, quando o prêmio “Bola de Ouro” ainda não estava sob o guarda-chuva da FIFA. Muito se falou sobre a possibilidade de o brasileiro Neymar arrebatar o tão cobiçado título, mas o atacante santista ainda precisa provar que será tão bom na Europa quanto é no Brasil. Algo que só saberemos quando o jovem e badalado jogador desembarcar no Velho Mundo. Sempre lembrando que penteado diferente não é garantia de sucesso.

    Ser eleito o melhor futebolista do planeta é um prêmio individual, mas Messi só triunfou mais uma vez porque tem ao seu redor uma equipe como o Barcelona, comandada pelo melhor treinador da atualidade, o catalão Pep Guardiola. No contraponto, o Barcelona – aque tem excelentes jogadores para dar e vender – sabe aproveitar ao máximo o talento incontestável de Lionel Messi. Uma espécie de chumbo trocado indolor, uma avenida de duas mãos.

    Essa parceria de sucesso entre Messi e o Barça é facilmente comprovada pela atuação nada empolgante do jogador na seleção argentina. Vivendo no presente as glórias do passado e o folclore de sempre, a seleção argentina não é competente o suficiente para explorar a genialidade de Messi. Ao mesmo tempo em que Messi não é capaz de resolver sozinho o nó que atravanca o onze da terra do tango. Mas no clube merengue Messi deixa claro que nasceu para jogar futebol, desde que bem acompanhado.

    Messi entrou definitivamente para a história do futebol mundial porque é um jogador completo, dentro e fora de campo. O seu jeito de jogar, veloz e com a bola sempre próxima aos pés, o que dificulta o combate adversário, combina muito bem com o chamado “carrossel holandês”, esquema tático que o Barcelona adotou há algumas décadas e que transforma os rivais em bobos da corte.

    Ouvir os especialistas em futebol incensando Neymar chega a dar náuseas, pois não é novidade que os bastidores do mais popular esporte global provocam arrepios. Por ter virado negócio milionário, o futebol exige dos que com ele se envolvem um pensamento único: lucro. E é exatamente por esse detalhe nada pequeno que muitos lançam Neymar ao Olimpo. A final contra o Barcelona, no Japão, pelo Campeonato Mundial Interclubes, provou que o jogador santista tem um longo caminho a trilhar.

    Estratégia idêntica foi adotada com Robinho, que nos tempos de Vila Belmiro chegou a ser chamado de o “Novo Pelé”. Bastou Robinho pisar nos gramados europeus para Pelé se tornar ainda mais incomparável. É fato que Neymar é muito melhor que Robinho, mas jogar futebol na Europa é coisa para poucos e muito bons.

    A Argentina não é dona do melhor futebol do mundo, mas pode falar de boca cheia que o melhor jogador do planeta nasceu por lá. Dentro das quatro linhas o Brasil já não apresenta o aquele velho e encantador futebol da Copa de 70, mas pode gazetear que o gol mais bonito de 2011 foi marcado por um nativo: o menino Neymar.

    Dizia minha saudosa avó que o ser humano deve evitar pelo menos dois tipos de discussão: futebol e política. Mesmo respeitando a memória daquela esguia, calma e apaixonada senhora de olhos e cabelos acinzentados, não seguir seus conselhos foi algo inevitável. Depois de anos a fio no jornalismo político passei a escrever sobre esporte, resultado de um honroso convite do amigo Wanderley Nogueira, um dos maiores jornalistas esportivos brasileiros de todos os tempos.

    Como o esporte ganhou reforço na minha vida por conta das crônicas nem sempre alentadoras, acabei descobrindo no cotidiano alguém coerente com quem posso discutir assuntos relacionados ao futebol. Algo que há alguns meses venho fazendo com certa regularidade. Corintiano com todas as letras, mas com a coerência intacta, o frentista do posto de combustíveis da esquina tornou-se meu interlocutor quando o assunto é futebol. Sempre consciente, porém esperançoso, o frentista disparou uma frase quase profética quando certa vez falávamos sobre Lionel Messi e seu indiscutível talento. “O Messi é espetacular até no videogame”, disse o frentista ao se referir à genialidade do argentino que é craque até mesmo nos jogos eletrônicos de futebol que fazem a alegria de nove entre dez adolescentes.

    Encerrada a noite de premiação da FIFA veio-me à mente aquelas precisas palavras do frentista, bom no abastecimento dos carros dos clientes, mas melhor ainda como analista de futebol. E se Messi quiser dedicar a Bola de Ouro a mais alguém, que não esqueça o meu novo parceiro de conversas futebolísticas.