Eventual intervenção de Dilma na Comissão de Ética provará que o Planalto é refém da corrupção

(Foto: Revista Exame)
Jogo perigoso – Ao assumir o principal cargo do País, Dilma Vana Rousseff afirmou que seria intransigente com a corrupção. A presidente só esqueceu-se de avisar aos incautos que para toda regra sempre há pelo menos uma exceção.

Depois de passar o primeiro ano do mandato gerenciando crises ministeriais que surgiram a partir de denúncias de corrupção e irregularidades, Dilma agora mostra aos brasileiros que nem tudo o que um político fala pode ser levado a sério. Não se trata de duvidar da seriedade da presidente, mas de reconhecer que a política é propulsada por bravatas e inverdades.

Inconformada com a decisão da Comissão de Ética Pública da Presidência de abrir investigação para apurar as denúncias contra Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Dilma decidiu trocar cinco integrantes do colegiado. A primeira medida seria não renovar o mandato de três conselheiros. A decisão não afeta o presidente da Comissão, o ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence.

A Comissão de Ética acolheu requerimento do PSDB, que pediu a abertura de investigação contra Fernando Pimentel, acusado de, através de empresa de consultoria de sua propriedade, firmar contratos à sombra do tráfico de influência. Petistas de plantão alegam que o trabalho de consultoria se deu antes de Pimentel chegar à Esplanada dos Ministérios.

Não é a primeira vez que uma decisão da Comissão irrita a presidente Dilma Rousseff. A primeira contrariedade ocorreu por ocasião do escândalo envolvendo o petista Antonio Palocci Filho, que sob acusações de enriquecimento enorme e meteórico deixou a Casa Civil. Em dezembro passado, a conselheira Marília Muricy aconselhou à presidente a demissão do então ministro do Trabalho, Carlos Lupi.

O caso de Pimentel é semelhante ao de Palocci, que amealhou valores exorbitantes em curto espaço de tempo, também com consultorias, antes de chegar ao comando da Casa Civil. O temor de Dilma é que a recomendação da Comissão em relação a Pimentel seja conceitualmente igual à dispensada ao ex-ministro Antonio Palocci Filho.

Caso mantenha a decisão, ainda não confirmada, de ingerir na Comissão de Ética Pública, cujas recomendações podem ser rejeitadas pela presidência, Dilma provará aquilo que o Brasil todo já sabe. Que no âmbito do Estado a corrupção pode ser comparada a um agressivo tumor incrustado na veia aorta, sem qualquer possibilidade de ser extirpado de imediato, sob pena de o paciente morrer de hemorragia. Em visão mais simplista, porém não menos drástica, acabar com a corrupção é o mesmo que tirar de um cachorro faminto o seu prato de comida.

A preocupação palaciana se explica pelo fato de que após o advento do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”, o núcleo duro do governo de Luiz Inácio da Silva trocou a compra de apoio através de mesadas pela entrega de ministérios e autarquias, onde companheiros e “apaniguados”, assumindo o risco da operação, cometem ilegalidades que ao final compensam a vergonhosa obediência política.

Considerando que 2012 é um ano eleitoral, Dilma pode ser aconselhada a não promover mudanças suspeitas na Comissão de Ética, mas de alguma maneira tentará salvar a pele de Fernando Pimentel.