Pane seca – A decisão da prefeitura de São Paulo de restringir a circulação de caminhões em determinados horários na Marginal Tietê e em 25 ruas e avenidas da Zona Norte paulistana pode levar a maior cidade brasileira ao desabastecimento de combustível. Os transportadores de combustíveis resolveram parar em protesto à regra que impede a circulação de caminhões na Marginal Tietê em dois períodos: das 5 horas às 9 horas e das 17 às 22 horas, de segunda a sexta-feira, e das 10 horas às 14 horas aos sábados.
Com a paralisação dos chamados “tanqueiros”, muitos postos da cidade de São Paulo já registram falta de gasolina e etanol. Em outros, a ganância pelo lucro fácil levou os donos dos estabelecimentos a subirem os preços dos produtos nas primeiras horas desta terça-feira (6).
O prefeito Gilberto Kassab acenou com a possibilidade de negociação com os transportadores, mas até agora nenhum encontro foi agendado. O problema da nova regra está no curto período que os transportadores passaram a ter para realizar as entregas. Com um trânsito quase sempre caótico, a capital paulista não permite arriscar em termos de horário. Um caminhão de combustível, por exemplo, que sai para uma entrega dentro do horário permitido da manhã pode não conseguir completar a operação antes da restrição vespertina.
Com isso a cidade passa a viver com a expectativa do fim dos combustíveis, sendo que alguns setores importantes, como hospitais, não podem interromper as atividades. A ideia da prefeitura de retirar da Marginal Tietê parte dos caminhões em dois períodos do dia não soluciona o problema do trânsito. O gargalo do trânsito paulistano está no excessivo número de carros que circulam por ruas e avenidas da cidade, contingente que cresceu de maneira assustadora após a decisão do então presidente Lula de reduzir impostos temporariamente para o setor automobilístico.
Manter a economia aquecida é a missão de qualquer governante que se preze, mas o efeito pode ser negativo a curto se prazo se a ação não for responsável. Não foi por falta de alerta que o palácio do Planalto deixou de destinar recursos às grandes cidades do País para investimentos na melhoria do sistema viário e do transporte público. O pedido de Lula para que o consumo fosse mantido em níveis elevados deu esse resultado. Um mar de carros novos e uma enxurrada de carnês vencidos.
É importante salientar que a paralisação dos transportadores, em sua maioria autônomos, pode estar vinculada a uma estratégia sindicalista para prejudicar o prefeito Gilberto Kassab, que abandonou o candidato petista Fernando Haddad para apoiar o tucano José Serra. Como na política o jogo é sujo e conhecido, tudo é possível.