Sob medida – Além do incontestável talento, os mais de duzentos personagens criados ao longo de 65 anos de carreira justificaram as inúmeras homenagens a Chico Anysio nos últimos dias. Entre tantas criações, que tão bem traduziram o pensamento e os desejos de uma nação continental, Chico encarnou um personagem que deve ser preservado como alerta aos incautos eleitores. Justo Veríssimo foi a melhor tradução que Chico Anysio encontrou para representar algo que ele próprio classificava como enfadonho: a política.
No rastro do jargão “tenho horror a pobre”, Justo Veríssimo era a mais completa tradução dos milhares de alarifes que frequentam o universo político nacional. Política, como se sabe, é um clube privado de negócios milionários, cujo acesso é restrito a uma ínfima minoria.
Quando descobre que um deputado federal de muitos estados do Nordeste se elege ao custo de R$ 50 por voto, o cidadão percebe que democracia é uma palavra esquecida no meio do dicionário. Que a morte do genial Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho, o Chico, sirva para eternizar esse importante alerta que representa Justo Veríssimo, personagem que se confunde com uma legião de espertos que fazem de um mandato a própria salvação.