Perdendo posição – Há algo desconexo no discurso palaciano sobre os rumos da economia brasileira. E quando a situação não é das melhores, a saída é confundir a opinião pública com o uso do chamado o “economês”, deixando a dura realidade estanque ao universo daqueles que entendem do assunto.
Na última sexta-feira (13), a presidente Dilma Rousseff, em discurso na Confederação Nacional da Indústria, disse que o objetivo do seu governo é o crescimento da economia brasileira sem inflação. Em outras palavras, o que Dilma quer faz parte dos sonhos recorrentes de todos os estadistas do planeta.
Não muito distante da sede da CNI, na Esplanada dos Ministérios um discurso destoava da fala de Dilma. Ministra do Planejamento, a petista Miriam Belchior afirmou no mesmo dia que a economia brasileira crescerá 4,5% em 2012. Já os especialistas do mercado financeiro apostam em crescimento de no máximo 3,2% para o PIB neste ano.
Se o discurso de Dilma não se encaixa perfeitamente com o da ministra, e vice-versa, o Palácio do Planalto continua confiando no consumo interno como forma de minimizar os efeitos colaterais da crise econômica que tem perturbado a União Europeia. Acontece que as altas taxas de juro, o endividamento recorde das famílias e a disparada da inadimplência comprometem sobremaneira os planos do governo. Fora esse trinômio assustador, a resistente inflação também é um fator que deve atrapalhar o projeto dos palacianos.
Para complicar o cenário, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta terça-feira (17) o relatório “World Economic Outlook”, que traz as perspectivas para a economia global. No documento, o FMI projeta que a economia brasileira será novamente ultrapassada pela do Reino Unido, caído da sexta posição para a sétima.
Para o órgão, a economia do Brasil deve crescer em termos nominais mais do que a britânica, mas ao ser convertida em dólares ficará abaixo do PIB do Reino Unido. O relatório do FMI aponta crescimento de 3% do PIB brasileiro e de 0,8% do britânico. A explicação para a ultrapassagem da economia do Reino Unido está no avanço da desvalorização do real frente ao dólar.
Esse cenário passa a ser um complicador para o governo, que até então se valia da desvalorização do dólar para manter a inflação sob o controle. Dólar valorizado ajuda as exportações brasileiras, o que no mercado interno pode fazer a demanda ser maior que a oferta. Se insistir na redução da taxa Selic, o governo poderá chegar a uma encruzilhada, pois crédito mais barato sem ter o que comprar puxa a inflação para cima.
Como sempre lembramos, Luiz Inácio da Silva vendeu aos incautos uma bolha de virtuosismo que começa a estourar. Sem saber o que fazer com a herança amaldiçoada que recebeu do antecessor, Dilma vem tentando medidas paliativas e pontuais que podem transformar a economia nacional em uma colcha de retalhos. Como disse certa feita o messiânico Lula, “nunca antes na história deste país”.