Rastilho de pólvora – Criada na manhã da quinta-feira (19), após leitura do requerimento firmado por deputados e senadores, a “CPMI do Cachoeira” só deverá começar a funcionar de fato na metade de maio. Algumas semanas depois, em junho, muitos parlamentares, especialmente os do Nordeste, estarão longe do Congresso por conta das festas juninas. No mês seguinte, julho, é a vez do recesso parlamentar. O cronograma da Comissão Parlamentar de Inquérito que investigará a teia de relacionamentos do contraventor goiano Carlos Augusto Ramos foi minuciosamente estudado.
A ideia dos principais envolvidos, que até agora não apareceram nas gravações e nas denúncias, é deixar os que já estão enrolados sangrarem até o último instante. Tudo no melhor estilo boi de piranha, sempre sacrificado nas águas dos rios para a boiada passar incólume mais adiante. No período em que a CPI funcionar antes das eleições, a estratégia será lançar no olho do furacão nomes de alguns figadais adversários do Palácio do Planalto, mesmo que não tenham envolvimento no caso. Dessa forma o inimigo ganha um carimbo de corrupto, cuja marca não desaparecerá tão cedo, mesmo que prove inocência.
É preciso cautela ao apontar o dedo daqui para frente, pois muitos políticos têm os nomes citados por terceiros em conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal, mas não há provas ainda de que os interlocutores falavam com autorização dos mencionados. No submundo do poder, falar em nome de uma autoridade é algo corriqueiro. Todos os que vendem facilidades nem sempre entregam a mercadoria prometida. E se a entrega acontece, em algum momento, muitas vezes aquele que foi citado como facilitador ou cúmplice do esquema criminoso não sabe do uso indevido do seu nome. Não se trata de defender esse ou aquele acusado de envolvimento no escândalo de Carlinhos Cachoeira, mas de exigir cautela ao acusar. É fato que a sociedade brasileira está cansada de tanta corrupção, mas não será essa CPI o antídoto definitivo.
Enquanto denúncias surgem aqui e acolá, ninguém se preocupou em saber quem pagou ou pagará os honorários do criminalista Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, escolhido para defender Cachoeira, que tem em seu poder uma cinemateca capaz de render um longa-metragem sobre corrupção. Segundo consta, Thomaz Bastos, que tem conhecida intimidade com a cúpula petista, teria cobrado R$ 15 milhões ou mais para defender o bicheiro preso na Operação Monte Carlo.
Os brasileiros devem ficar atentos à entrada do ex-ministro da Justiça no caso, pois é nesse detalhe que repousa o segredo do enigma, que dez entre dez palacianos não querem ver revelado. Até porque, se isso acontecer, o Brasil desmorona do Oiapoque ao Chuí.