Pronunciamento de Dilma exigindo redução do juro é sensacionalismo barato com oportunismo

Discurso populista – Na noite de segunda-feira (30), em pronunciamento por conta do Dia do Trabalho, a presidente Dilma Vana Rousseff voltou a criticar as altas taxas de juro cobradas pelos bancos privados. Em rede nacional, Dilma disparou novamente contra o mercado financeiro, alegando que o exemplo a ser seguido é o do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que nas últimas semanas reduziram as taxas de juro em duas ocasiões. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com os juros mais altos do mundo”, disse Dilma.

Nessa queda de braços, que tem como objetivo incentivar o consumo irresponsável por meio da concessão de crédito fácil, é importante salientar alguns pontos. O custo do dinheiro está diretamente relacionado a uma regra de mercado, a da oferta e da procura. Fora isso, há a variante do risco, que as instituições financeiras levam em conta no momento da fixação das taxas de juro. Dilma falou, em um trecho do seu pronunciamento, que “a maioria esmagadora dos brasileiros honra com presteza e honestidade os seus compromissos”, mas não é essa a realidade. A inadimplência, que cresceu após a onda de consumismo iniciada a partir de 2008, está em níveis elevados, o que interfere nas taxas de juro e na disposição do mercado de conceder empréstimos.

É fato que as instituições financeiras têm lucrado como nunca no Brasil, mas esse movimento é resultado da complacência do então presidente Luiz Inácio da Silva com o setor, que despejou verdadeira fortuna nas duas últimas campanhas eleitorais do ex-metalúrgico. Não será com discurso voltado para a plateia que Dilma conseguirá convencer os bancos a reduzirem as taxas de juro. Há no mercado operações contratadas anteriormente e ainda em vigência, cujas bases contratuais devem ser cumpridas à risca. Fora isso, as regras para a captação de dinheiro no exterior foram endurecidas pelo governo federal, como forma de evitar a enxurrada de dólares no País, o que prejudica as exportações brasileiras.

Dilma não tem um avarinha de condão e nem o Brasil é uma ditadura para que fatos aconteçam da noite para o dia, por meio de uma canetada resultante do humor do chefe da nação. Mudanças no mercado financeiro, como taxas de juro, por exemplo, demandam tempo para que sejam colocadas em prática e surtam os efeitos desejados. O BB e a Caixa só decidiram pela redução das taxas porque em caso de prejuízo o mesmo será socializado.

A equipe econômica do governo é uma das piores das últimas décadas e continua insistindo em não fazer a lição de casa. De nada adianta sonhar com a queda das taxas de juro, se em uma ponta há um tomador sedento de recursos que é o próprio governo. No caso de as taxas de juro serem reduzidas, o consumo interno crescerá de forma automática. Como o Brasil enfrenta um reconhecido processo de desindustrialização, a saída será incentivar a importação para evitar a alta da inflação, pois a tendência é que a demanda seja maior do que a oferta. Acontece que se render aos importados é impulsionar a desindustrialização. Fora isso, o Banco Central já reviu para cima a inflação para 2012. Fato é que nessa ciranda de discursos alguém está querendo ser enganado.