Velhos tempos – Compreender a política e seus desdobramentos exige um pouco de dedicação, pois fatos passados refletem no presente ou são preâmbulos de escândalos atuais. Sem consultar a cúpula do PDT, que na máquina federal tem o Ministério do Trabalho como capitania hereditária, a presidente Dilma Rousseff escolheu o deputado federal Brizola Neto para comandar a pasta. A escolha não agradou o partido, que pode se rebelar a qualquer momento, se nada for feito para contornar o problema.
Pois bem, o que se temia nesta quinta-feira (3) é que José Vicente Brizola comparecesse à posse do filho, Brizola Neto, como ministro do Trabalho. José Vicente brigou com os filhos por causa do espólio político do pai, Leonel de Moura Brizola, assunto que terminou para uma delegacia do Rio de Janeiro e provocou uma hecatombe familiar.
José Vicente, para quem não se recorda, presidiu a Lotergs, empresa de loterias do Rio Grande do Sul, denunciou, entre 2004 e 2005, um esquema do governo do petista Olívio Dutra com o jogo do bicho. De acordo com o filho do ex-governador Brizola, ele foi pressionado a levantar recursos junto aos empresários da jogatina para as campanhas do PT a senador e a governador. Quem comandava os jogos ilegais no Rio Grande do Sul era ninguém menos que Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O que mostra que a relação do PT com a contravenção vem de longe. O escândalo alcançou repercussão nacional, obrigando Olívio Dutra a negar os fatos antes de sair de cena.
“Propuseram a mim que eu angariasse recursos, para a campanha majoritária do PT, perante esses concessionários de serviços públicos e, eventualmente, outros operadores de jogos, legais ou ilegais. Como me recusei, pediram-me, então, que eu apenas apresentasse as pessoas. Foi feito isso. Posteriormente, tive a notícia de que a empresa que geria o jogo Totobola teria contribuído com algo entre R$ 100 mil e R$ 150 mil — declarou José Vicente Brizola na CPI dos Bingos, em 2005.
A relação entre o governo do PT e a jogatina foi alvo de CPI na Assembleia Legislativa gaúcha, em 2001, mas o Ministério Público rejeitou as acusações contra Olívio Dutra e a maioria dos citados. Em depoimento, José Vicente afirmou que uma empresa do contraventor Carlinhos Cachoeira vencera uma licitação de forma “estranha”.
Na ocasião, o governo Olívio Dutra abriu concorrência para terceirizar produtos lotéricos. A empresa de Cachoeira ganhou a licitação, que acabou anulada. O bicheiro apelou à Justiça e obteve ganho de causa em primeiro grau. Muito estranhamente, o Palácio Piratini adotou silêncio obsequioso e não recorreu da decisão.