Seguindo o roteiro – Tão logo a Polícia Federal prendeu Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, em 29 de fevereiro passado, o PT começou a se preocupar com um eventual depoimento do contraventor goiano, cuja munição não é pouca e tem efeito devastador. Essa preocupação se materializou com a defesa de Cachoeira ficando aos cuidados do criminalista Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça durante o governo Lula e homem da confiança do ex-presidente. O objetivo era fazer com que Cachoeira permanecesse calado o maior tempo possível.
Comenta-se nas rodas da política que para defender Cachoeira o advogado teria cobrado R$ 15 milhões, cifra baixa se considerado o estrago que o principal alvo da Operação Monte Carlo ainda pode produzir. Aliás, ameaças já teriam sido feitas, o que obrigou os advogados a se desdobrarem para conseguir pelo menos algum benefício em seu favor. E sua transferência para a Penitenciária da Papuda, em Brasília, facilitando as visitas de familiares, foi o primeiro.
Com medo das consequências do depoimento do empresário da jogatina à CPI do Cachoeira, o PT e os advogados entraram em cena rapidamente. A primeira providência foi anunciar que Cachoeira poderá permanecer calado durante interrogatório da CPI. Ele não pode mentir, mas lhe é reservado o direito de permanecer em silêncio. Trata-se do direito constitucional de o acusado não ser obrigado a produzir provas contra si. Ou seja, nada de ilegal.
A segunda providência surgiu com a tentativa de adiamento do depoimento de Carlinhos Cachoeira, marcado inicialmente para esta terça-feira (15). Para isso os advogados apelaram ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Celso de Mello deferiu liminarmente o pedido. A defesa alega que Cachoeira não pode depor na CPI antes de ter acesso aos autos.
O presidente da CPI do Cachoeira, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), negou ao advogado o acesso aos autos, o que serve para tumultuar as investigações e dificultar a elucidação do escândalo, algo que ajuda o PT a ganhar tempo e encontrar uma saída para o estrago feito por Lula, que incentivou a criação da CPI do Cachoeira. Os integrantes da CPI não gostaram da decisão em favor do contraventor, mas faz-se necessário lembrar que o ministro Celso de Mello, um respeitável nome do Judiciário, cumpriu o que determina a lei.
Há quem defenda a tese de que Cachoeira deveria ir à CPI e ficar calado, pois assim não interromperia a sequência dos trabalhos. Só mesmo um irresponsável para pensar algo tão estapafúrdio. Melhor seria se os dirigentes da CPI tivessem liberado o acesso aos autos, por mais que muitos aleguem que os documentos são os mesmos que estão vazando a conta-gotas. Trata-se de um detalhe técnico legal à disposição do acusado e dos seus defensores.
Essa manobra, que tenta-se esconder debaixo das polêmicas discussões sobre o tema, foi algo combinado com antecedência, pois Cachoeira só irá à CPI depois de o STF julgar o mérito da liminar concedida em favor do bicheiro. Em outras palavras, a armação deu certo.