Óleo de peroba – Como sempre destacamos ao longo dos quase onze anos de existência do ucho.info, exigir coerência na seara política é a mais hercúlea das tarefas, quiçá não seja impossível. Se isso é letra morta, difícil é compreender algumas articulações políticas que aniquilam discursos e atropelam ideologias. É o caso do ex-governador José Serra, candidato do PSDB à prefeitura paulistana. Depois de demorado ensaio antes de assumir a candidatura, Serra recebeu sem problemas o apoio do prefeito de Gilberto Kassab, que durante semanas a fio tentou se atirar no colo de Lula e do candidato petista Fernando Haddad. Para piorar, Kassab foi autor do projeto que, contrariando o desejo da extensa maioria dos paulistanos, concedeu a Lula um terreno no centro da capital paulista para o instituto que leva o nome do ex-metalúrgico.
A política tem dessas coisas inexplicáveis, mas há quem diga que pelo poder tudo vale. No momento em que costura alianças em torno de sua candidatura rumo ao comando da mais importante cidade do País, José Serra volta os olhos para Porto Alegre e decide imiscuir na política local.
No afã de conquistar na capital paulista o apoio do PCdoB, que na esfera federal está alinhado com o PT, Serra convidou a deputada federal Manoela D’Ávila (PCdoB-RS), candidata à prefeitura de Porto Alegre, para participar de evento em São Paulo, realizado na última segunda-feira (28). A José Serra não importa o fato de a maioria do eleitorado porto-alegrense rejeitar Manoela D’Ávila, mas sim o eventual apoio do PCdoB paulistano à sua candidatura.
Manoela D’Ávila aguarda o apoio do PT em Porto Alegre para que o PCdoB dê a contrapartida ao petista Fernando Haddad na cidade de São Paulo. Enquanto nada é decidido, Serra tenta cooptar o apoio do PCdoB, que pode também lançar candidatura própria.
Depois do evento da segunda-feira, Serra e Manoela se reuniram a portas fechadas. Ao final do encontro, Manoela D’Ávila, que não escondeu o descontentamento do seu partido com o impasse, disse que “São Paulo é a candidatura prioritária do PT e Porto Alegre é a candidatura prioritária do PC do B. Há um esforço nosso de construir um mapa de alianças nacional e é evidente que o símbolo do PT não apoiar o PC do B em Porto Alegre é um símbolo forte, que pesa pro partido”.
A pré-candidata disse também que a preferência do PCdoB é alianças com “partidos que se situam no campo da presidente Dilma Rousseff”. O que significa que um apoio a Gabriel Chalita, candidato do PMDB à prefeitura paulistana, não está descartado.
No caso de sua incursão na direção do PCdoB produzir resultados, Serra colocará em seu palanque ninguém menos que o vereador Netinho de Paula (PCdoB), conhecido não apenas por ser pagodeiro, mas por sua destreza como agressor de mulheres. Fora isso, José Serra será obrigado a posar ao lado do deputado federal Protógenes Queiroz, um ácido crítico dos tucanos na Câmara dos Deputados.
Esse enxadrismo eleitoral mostra de maneira clara que na política pouco vale a ideologia e a coerência, pois o que predomina nesse universo é o oportunismo e a sede pelo poder.