Sem limites – Depois da ruidosa polêmica com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, Lula mais uma vez não falou sobre o tema durante sua participação no programa do apresentador Carlos Roberto Massa, o “Ratinho”, na noite de quinta-feira (31). Faltando menos de um minuto para o final do programa, o ex-presidente disse que as explicações foram dadas na nota divulgada pelo instituto que leva seu nome. Resumindo, Lula teve outro momento de covardia ou, então, seguiu à risca o plano traçado pela sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, que se empenha para que o caso fique como está e não provoque uma crise institucional entre Poderes.
Como se o programa do SBT fosse uma espécie de horário eleitoral gratuito, Lula aproveitou a oportunidade para alavancar a candidatura do empacado Fernando Haddad, escolhido pelo próprio ex-presidente para disputar a prefeitura de São Paulo pelo PT. Inicialmente sentado na plateia, Haddad foi chamado para se juntar a Lula e Ratinho. De postura apagada e sem convencer que quer que seja, o ex-ministro da Educação se limitou a responder algumas perguntas com citações sobre conquistas da era Lula, como se o candidato ao comando da maior cidade brasileira fosse o ex-metalúrgico.
A forma como Fernando Haddad foi apresentado ao telespectador pode levar a contestações na Justiça Eleitoral, pois ficou claro que se tratava de um evento antecipado de campanha. O prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, pré-candidato à reeleição e que acompanhou Lula ao SBT, não teve o mesmo tratamento por parte do apresentador. Em outras palavras, Lula transformou o programa em palanque eleitoral, o que pode render complicações caso a lei seja cumprida à risca.
A atitude abusiva de ignorar o que determina o conjunto legal da nação no tocante ao período eleitoral reforça a tese de que no caso do entrevero com o ministro Gilmar Mendes que mente de forma descarada e acintosa é o ex-presidente Lula, que acredita estar acima do bem e do mal.
Troca de favores
Lula e Ratinho afirmaram por diversas vezes que são amigos de longa data e que jamais um precisou de favor do outro e vice-versa. Essa fala visguenta serviu para explicar a presença do ex-presidente em um programa de qualidade duvidosa e que pouco acrescenta à vida do brasileiro, mas que tão bem traduz o escárnio em que se transformou o País.
O tema da relação desinteressada entre ambos é balela, pois em 2004 o advogado Sérgio Renato Costa Filho gravou várias conversas com seu ex-sócio, o também advogado Roberto Bertholdo, então conselheiro da binacional Itaipu, que revelou um acerto no valor de R$ 5 milhões para que o apresentador falasse bem do petista durante alguns meses. “Na segunda-feira eu vou, eu e o Ratinho e o Borba (José Borba, à época líder do PMDB na Câmara dos Deputados), no avião do Ratinho, pra pegar o Delúbio, que é o tesoureiro. Pra fazer um acerto de uns cinco paus”, disse Bertholdo.
Como no universo da televisão nada é de graça, a participação de Lula no programa do apresentador Carlos Roberto Massa por certo teve algum tipo de acordo, mesmo que o respectivo pagamento ocorra mais adiante.