Disco riscado – Quando alguma autoridade quer enganar a porção incauta da opinião pública, o melhor caminho e rebuscar o linguajar, pois que ouve normalmente pensa que entre palavras difíceis se escondem soluções. Para minimizar as péssimas repercussões do desempenho da economia brasileira, que no primeiro trimestre do ano cresceu apenas 0,2%, a presidente Dilma Rousseff disse nesta segunda-feira (4) que o Brasil está se preparando para “uma política procíclica de investimento”, o que deve ocorrer no vácuo das obras de infraestrutura, que há anos repousam na manjedoura da promessa.
“O Brasil também está se preparando para ter, diante do acirramento das crises e de processos recessivos na economia internacional, uma política procíclica de investimento. Nós temos imensas oportunidades, tanto na área de infraestrutura, transporte energia e telecomunicação, como também na relação associada entre o Brasil e Espanha, no sentido de promover a cooperação, inovação e pesquisa”, disse a presidente em discurso no Palácio do Itamaraty, ao lado do rei Juan Carlos I, da Espanha, em vista oficial ao Brasil.
Em seu discurso, a presidente reiterou que “a saída da crise [internacional] passa fundamentalmente pelo desenvolvimento econômico e distribuição de renda”. E Dilma completou: “Tal esforço não é compatível com a paralisia, nem tampouco é incompatível com a necessária busca do equilíbrio macroeconômico, mas a retomada do crescimento em nível global não pode depender apenas de medidas dos países emergentes. Em um momento de crise é fundamental insistir em uma ação coordenada e solidária entre todos os atores da economia mundial, em especial, uma ação coordenada e solidária entre os próprios países da Europa”.
“Será esta a mensagem que o Brasil levará à próxima cúpula do G20 no México: a afirmação da importância do crescimento econômico e simultaneamente a tomada de medidas na área dos esforços macroeconômicos de estabilidade. Não há incompatibilidade entre as duas, pelo contrário, é necessário o crescimento para que o ajuste não seja feito em detrimento dos povos”, completou.
Essa fala visguenta e anestesiante de Dilma Rousseff a massa desavisada da população, mas não quem entende minimamente de economia ou acompanha com atenção o cotidiano da política brasileira. É sabido que os anunciados investimentos em infraestrutura serviram para inflar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e embalar a campanha da então candidata petista ao Palácio do Planalto. O ritmo das obras do PAC é tão vergonhoso, que até mesmo as obras para a Copa do Mundo de 2014 estão comprometidas. Muitos dos atrasos são propositais, pois é assim que surgem as obras chamadas emergenciais e superfaturadas, o que permite a roubalheira, mas coloca em risco o mais importante evento esportivo do planeta.
Falar em distribuição de renda é um abuso discursivo por parte de Dilma, pois o máximo que o governo do PT conseguiu até então, desde que chegou ao poder central, foi impulsionar o endividamento das famílias brasileiras e ajudar na disparada da inadimplência. Com mais de dois terços da população economicamente ativa recebendo menos de dois salários mínimos mensais, apostar em consumo interno como solução para a crise é acreditar em milagre.