Poço de bondade – Governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo negou aos integrantes da CPI do Cachoeira qualquer envolvimento com o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. E se existisse algum tipo de relação por certo o governador jamais admitiria, pois no inquérito que serviu de base para a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, não há qualquer prova a respeito do assunto.
Sobre a venda de uma casa em condomínio de luxo em Goiânia, pelo valor de R$ 1,4 milhão, Perillo alegou que recebeu os cheques, depositados em sua conta bancária, mas não se preocupou em saber informações sobre o emitente. O governador goiano alegou que passou a escritura e que no caso da devolução de algum dos cheques o negócio estaria legal e automaticamente desfeito.
Os cheques
Os cheques recebidos por Marconi Perillo foram entregues por Wladimir Garcez, que comprou o imóvel, mas o emitente dos mesmos foi a Excitant Indústria e Comércio de Confecções, empresa pertencente a uma cunhada do bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Perillo está correto ao afirmar que qualquer irregularidade com os cheques tornaria inválida a transação, mas é no mínimo excesso de credulidade passar a escritura de um imóvel desse valor sem que o pagamento tenha se concretizado, já que a venda ocorreu em março e dois dos três cheques foram pré-datados para os meses de abril e maio de 2011.
Muito estranhamente, a Excitant, que destinou os três cheques para a compra do imóvel do governador de Goiás, mantém conta bancária em uma agência do Banco do Brasil na cidade goiana de Anápolis, mas a sede da empresa, de acordo com a Receita Federal, é no bairro de Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista (imagem abaixo).
Excesso de credulidade
Ninguém chega a um cargo eletivo por causa da inocência, especialmente ao governo de um estado da importância de Goiás. Marconi Perillo, que admitiu ter se encontrado algumas vezes com o contraventor que é alvo da CPI, tem o direito de negar que soubesse que Carlinhos Cachoeira estivesse envolvido em negócios ilegais, mas esse tipo de declaração soa como um atestado de incompetência.
Perillo pode ter sofrido de amnésia, mas Carlinhos Cachoeira foi protagonista do primeiro escândalo de corrupção da era Lula, quando se envolveu com Waldomiro Diniz, à época assessor do então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu de Oliveira e Silva.
Que o PT insistiria no episódio da casa na sessão desta terça-feira da CPI já era sabido, mas o partido que agora ostenta um punhado de paladinos da moralidade não pode esquecer que Antonio Palocci Filho, ejetado da Casa Civil por causa de enriquecimento suspeito e meteórico, mora em um apartamento luxuoso na cidade de São Paulo, cujo proprietário não tem condição financeira de possuí-lo.
Bingos na pauta petista
Como esperado, os parlamentares petistas que integram a CPI do Cachoeira centraram parte das perguntas no tema dos bingos, assunto que o governador Marconi Perillo tratou com certa tranquilidade e com base em dados oficiais, como leis que autorizava a exploração desse tipo de jogo e decisões judiciais que proibiram o negócio.
Ao PT não cabe esse papel de fiscal de xerife verde-louro, pois a primeira mensagem presidencial enviada por Luiz Inácio da Silva ao Congresso Nacional, em fevereiro de 2003, tratava exatamente da necessidade da legalização dos bingos como forma de manter a fonte de financiamento para a formação de atletas, uma vez que os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, estavam a caminho. Meses mais tarde, o entoa ministro José Dirceu anunciou a criação de uma comissão interministerial para tratar do assunto.
Fora isso, a relação do PT com bingueiros é antiga. Na campanha de 2002, o então candidato petista Antonio Palocci Filho, que concorria à Câmara dos Deputados, recebeu doações de empresários de bingos. Os mesmos bingueiros despejaram, no mesmo ano, R$ 1 milhão na campanha de Lula.
Se os petistas têm dúvidas a respeito desse envolvimento promíscuo, por assim dizer, entre a legenda e os bingueiros, o que pode ser considerado normal em um partido que se transformou em usina de corrupção, que perguntem ao empresário Roberto Carlos Kurzweil, que foi sócio dos angolanos Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, o Vadinho. Uma das empresas de Kurzweil, a Locablin, tinha listado em seu imobilizado o Chevrolet Ômega que foi cedido ao mensaleiro Delúbio Soares, após ter sido ejetado da tesouraria do PT. A mesma Locablin locou, antes disso, três outros carros – dois Ômegas e um Passat alemão – usados na campanha petista de 2002. Em depoimento à CPI dos Bingos, Kurzweil disse sem titubear: “O Lula, o Palocci e o Dirceu andaram em carros alugados por minha empresa na campanha”.