Pé no freio – Incendiada pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que saiu de cena após o incidente com o ministro Gilmar Mendes (STF), a ala incendiária do PT rompeu a semana com a notícia de que poderia arrastar o tucano José Serra para a CPI criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor goiano Carlinhos Cachoeira, preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro, na Operação Monte Carlo.
A ameaça petista consistia em convocar José Serra para explicar na CPI os contratos do governo de São Paulo com a Delta Construtora, mas ideia não prosperou por determinação do Palácio do Planalto. A ideia era complicar José Serra, candidato do PSDB à prefeitura paulistana, na tentativa de alavancar a candidatura do petista Fernando Haddad, imposto por Lula. O primeiro empecilho repousa no fato de a Delta ter contratos com mais de vinte governos estaduais, além de ser a construtora que mais cresceu na era Lula e maior detentora de obras do PAC.
A razão maior para a operação abafa capitaneada por palacianos se divide em duas. A Delta doou, oficialmente, R$ 1,15 milhão para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010. Considerando o crescimento meteórico da empreiteira de Fernando Cavendish nos últimos dez anos, na contabilidade paralela a doação pode ter sido muito maior, pois uma campanha presidencial com chance de sucesso não sai por menos de US$ 300 milhões. A segunda razão é que o JBS Friboi, frigorífico cuja controladora, a J&F, desistiu de comprar a Delta, foi um dos maiores doadores da campanha de Dilma.
Por outro lado, quando noticiamos que Olavo Noleto, assessor da presidência que está sob a tutela de da ministra Ideli Salvatti, tinha relações com Wladimir Garcez, ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia e “número dois” do esquema de Cachoeira, já tínhamos a confirmação de que outras complicações viriam a seguir. O Palácio do Planalto escalou o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para informar que o assunto era página virada, mas não foi isso que a sucessão de fatos mostrou.
Na esteira da tensão que emergiu nos corredores palacianos, por causa dos eventuais desdobramentos do escândalo, surgiram informações de que Carlinhos Cachoeira, que tem compulsão por guardar provas dos seus contatos e encontros nada ortodoxos, tinha em seu poder gravação que comprometeria pessoas próximas à presidente Dilma Rousseff. O assunto dessa gravação seria a entrega de uma quantia em dinheiro para a campanha da então candidata Dilma. O que explica em parte a atuação do advogado Márcio Thomaz Bastos como defensor de Cachoeira, solução emergencial para controlar a verborragia de alguém que perdeu a liberdade e sabe além do que muitos gostariam.