(*) Eduardo Pimenta –
A aliança do PT e PP para concorrer a Prefeitura de São Paulo chamou a atenção de todos, merecendo uma reflexão quanto à ação de Luiza Erundina.
Inicialmente é de clarear que quando nos deparamos com as ações humanas, devemos analisá-las consoante a uma dedução de valores que o agente as tem, se o equilíbrio virtuoso dos nobres valores foi considerado para fundamentar aquela conduta específica. Se a conduta foi tomada por medo dos fatores externos, ou se foi tomada pelo desejo sobre um fator externo, ou foi por desafio. Estes valores deduzidos, sobre a ação do agente – como ser individual e não dos valores coletivos ou universais, permitem conhecer o que é certo e o que é errado para ele, tornando-se tais conceitos relativos sob a ótica universal. E daí formam-se os grupos que identificaram-se por terem os mesmo valores, logo: diga-me com quem tu andas e te direis quem és.
Em encontro recente entre Lula e Paulo Maluf ficou nítido a identidade de valores entre ambos, e mais do que isto deduz a concordância com os atos antiéticos, quer em relação ao superfaturamento de obras publicas praticada, e quiçá a ciência quanto ao mensalão e atos afins.
Questiona-se, será que Lula não sabia dos atos de corrupção em seu governo? Com a aliança feita com Paulo Maluf, Lula e o PT mostram que os princípios e os valores virtuosos não predominam nas ações de Lula e do PT, por conseguinte não surpreende que o Presidente em seu governo tivesse conhecimento de todos atos praticados, inclusive os de corrupção, preferindo a mentira para o grande público. Afinal, os valores de preservação no poder devem prevalecer a qualquer custo sobre qualquer outro.
Mas o bom caráter, os bons princípios não silenciam por manifestação de vontade, como fez Luiza Erundina renunciando a candidatura a vice-prefeito na chapa de Fernando Haddad.
Tenho em mente, em nítida lembrança o texto de Miguel Maria Serpa Lopes, sobre “O silêncio como manifestação de vontade”, ei-lo: “…uma manifestação de vontade, por meio de um comportamento negativo, deduzido de circunstâncias concludentes, caracterizadas pelo dever e possibilidade de falar quanto ao silente e pela convicção da outra parte, indicando uma inequívoca direção da vontade incompatível com a expressão de uma vontade oposta.” (1)
Isto permite concluir que, silente, Luiza Erundina não ficou ao acordo vinculante a chapa Haddad/Erundina, formado por Lula-PT/Maluf-PP, e mais demonstrou firmeza de caráter e espírito público, o que foi visto por manifestação contrária a aliança. Haja em vista, a renúncia a ocupação da chapa de vice-prefeito na chapa do PT, a concorrer à prefeitura de São Paulo.
Luiz Erundina deixou claro seu caráter e espírito público, sobretudo valores morais.
Sócrates pregou seus valores morais na prática da virtude pela sabedoria, do bem pensar para bem viver, pois não existe bem onde não há moral. E a moral é a mesma em todas as circunstâncias. Daí tem-se o bem moral que goza de tranqüilidade e segurança. Se o bem moral decorre da virtude, ele não se submete as ordens ou coações, é um estado puro, não contaminado por qualquer mal.
A aliança PT/PP para concorrer à prefeitura de São Paulo demonstrou que o interesse de ambos são os valores de preservação a qualquer custo, e com isto se contaminam. Por outro lado Luiz Erundina demonstrou que os valores prevalecem em suas ações.
(1) P.165/166 – O Silencio como manifestação da vontade – 3 ed. – Ed. Freitas Bastos – Rio – 1961
(*) Eduardo Pimenta é advogado especialistas em direitos autorais, professor universitário e escritor