De volta, o Lulão mágoa e rancor

    (*) José Nêumanne Pinto –

    Em vez de ser discreto, como prometeu, ao sair, amado, do topo do poder, o ex-presidente sobe nos palanques para insultar nos microfones aliados que não se curvam à total vassalagem que exige

    Lula da Silva, o mágico dos palanques, está de volta, com dificuldades para emitir a voz por causa de um câncer na laringe, mas sem cerimônia alguma e com a animação de sempre. Sua primeira aparição foi em Belo Horizonte para tentar obrar o milagre de evitar a derrota tida como certa do candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Patrus Ananias, para o prefeito Márcio Lacerda, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), apoiado pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), do ex Aécio Neves e do atual governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia. Aprovado pela ótima gestão e apoiado por forças politicas majoritárias no Estado, o adversário dos petistas é pule de dez.

    Mas o Padim Ciço de Caetés não deixaria o retiro de sombra e ar seco de São Bernardo do Campo para pregar no deserto nem para jogar pérolas para os porcos. E para lá foi em missão evangelizadora e messiânica com a voz ferindo a garganta dolorida e pedras na mão. “Aqueles que o PT ajudou a chegar ao poder não querem mais ficar com o PT. O PT não vai ficar chorando. É importante que eles saibam que não estariam no governo se não fôssemos nós”, vituperou exigindo com a própria ingratidão a vassalagem alheia.

    Com a empáfia que só os arrogantes orgulhosos da própria ignorância têm, insultou os eleitores aos quais se dirigia: afinal, foram eles que o fizeram presidente, Márcio Lacerda prefeito, Anastasia governador, Aécio senador e Dilma sua sucessora para exercerem mandatos populares cumpridos em nome da maioria dos eleitores, e não da cúpula petista.

    O PSB o ajudou nas disputas presidenciais e é aliado de seu PT no mais dileto de seus projetos: a tarefa difícil de fazer de seu ex-ministro Fernando Haddad prefeito de São Paulo. A mãe do presidente nacional do partido, deputada Ana Arraes, pôs sob risco o sobrenome ilustre assumindo um voto polêmico no Tribunal de Contas da União (TCU) ao considerar lícitos contratos de “publicidade” com o mineiro Marcos Valério, que acaba de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

    Lula deixou o semiárido miserável para ganhar o Brasil e o mundo com mística de profeta dos pobres e oprimidos. Atingiu a glória e o topo do poder do qual saiu com uma generalizada confissão de amor do povo, que o consagrou com os mais altos índices de popularidade com que raros governantes em segundo mandato sonhariam. Prometeu ser um ex-presidente discreto e, ao contrário, não perde ocasião para buscar os holofotes e despejar em microfones cobranças e insultos que não condizem com sua saga. Tinha tudo para ser Lulinha, paz e amor. Preferiu assumir o trágico papel de Lulão, mágoa e rancor!

    (*) José Nêumanne Pinto é jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde