Falta muito – Mais importante cidade brasileira, quarta maior do mundo e a décima mais rica do planeta, São Paulo continua refém de candidatos à prefeitura que disputam o cargo como se fossem protagonistas de um bate-boca de fundo de quintal. Assim foi o debate levado ao ar na noite de segunda-feira (17) pela TV Cultura.
Líder das pesquisas de intenção de voto, Celso Russomanno (PRB) assistiu de camarote o embate entre José Serra e Fernando Haddad, que brigam para chegar ao segundo turno. E para tal não economizam farpas. Serra, que na manhã de segunda-feira (17) propôs a redução do ISS das cabeleireiras, à noite passou boa parte do tempo se esquivando dos ataques do “lulodepedente” Haddad.
Candidato imposto por Lula, Haddad criticou Gilberto Kassab, atual prefeito da capital paulista e que durante algumas longas semanas esteve no colo do PT paulistano. Kassab só saiu dos braços petistas quando Serra, depois de muito mistério, confirmou sua candidatura.
Por sua pujança e complexidade, São Paulo precisa de propostas sérias e viáveis e candidatos dispostos a cumprir suas promessas de campanha. Não será com uma interminável queda de braços que a cidade resolverá seus problemas e avançará na direção do futuro.
Para rebater as acusações do candidato petista, Serra lançou mão do escândalo do Mensalão do PT, o que é inevitável, mas não representa solução para a cidade. Haddad tem em sua costura político-eleitoral figuras polêmicas como Paulo Salim Maluf, cujo currículo é no mínimo revolto. Sem poder até mesmo atravessar a pé a Ponte da Amizade, sob pena de ser preso na esteira de mandato expedido pela Justiça dos EUA e em poder da Interpol, Maluf é acusado de crimes variados, como desvio de dinheiro público, evasão de divisas, sonegação fiscal, entre outros.
O partido de Maluf, o PP, vendeu apoio ao governo do então presidente Lula, segundo palavras do ministro Joaquim Barbosa, do STF. Mesmo assim, o outrora ético PT classifica como normal ter alguém desse naipe em sua coligação.
Serra, por sua vez, também não vê problema em ter o apoio do Partido da República, legenda que, como se sabe, é comandada pelo deputado federal Valdemar Costa Neto, réu no escândalo do Mensalão do PT e cuja sorte deve ser decidida nos próximos dias pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. À época do escândalo, Costa Neto, conhecido como “Boy”, renunciou ao mandato de deputado federal para não perder os direitos políticos. Ou seja, a coerência ficou retida na última cancela antes da disputa pela prefeitura paulistana, o que, diga-se de passagem, não é privilégio da cidade.
Candidato do PMDB, Gabriel Chalita empacou nas pesquisas no momento em que se assustou com a possibilidade de ser prefeito da maior cidade sul-americana. Órfão de carisma e sem convencer o eleitorado, Chalita continua refém de sua passagem pela Secretaria da Educação paulista, para onde foi guindado por Geraldo Alckmin.
Soninha Francine, do PPS, continua insistindo na tese repetitiva de que um punhado de bicicletas será capaz de empurrar a capital dos paulistas ao futuro. Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, candidato do PDT, ainda não sabe o que está fazendo nessa disputa. Em seus programas da campanha, Paulinho fala apenas e tão somente em melhorar a “condução” e minimizar o calvário do trabalho com a migração das empresas para a periferia. Projeto que para decolar precisa de pelo menos três mandatos.
Levy Fidelix, do nanico PRTB, tenta ser simpático diante das câmeras e posa de parente do Aladim ao falar do enfadonho “aerotrem”. Candidato do PSOL, Carlos Gianazzi ainda não revelou o seu eventual sonho de fincar na Praça da Sé uma estátua de Lênin.
Por fim, o pentecostal Celso Russomanno não cansa de negar a ingerência da Igreja Universal do Reino de Deus em sua candidatura, mas nada na campanha do escolhido pelo PRB é decidido sem a bênção do bispo Edir Macedo.
Com orçamento anual de R$ 39 bilhões e PIB de R$ 389 bilhões, São Paulo merece propostas mais sérias e políticos menos gazeteiros.