Missa encomendada – Como já era esperado, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo do Mensalão do PT (Ação Penal 470), rompeu a 32ª sessão do julgamento do mais escandaloso caso de corrupção da história como se fosse advogado de defesa de José Dirceu de Oliveira e Silva, denunciado pela Procuradoria-Geral da República como chefe da quadrilha que se envolveu na compra de parlamentares.
Lewandowski, que na sessão de quarta-feira (3) condenou Delúbio Soares por corrupção ativa e absolveu José Genoino, abriu sua fala minimizando as acusações contra o ex-comissário palaciano, repetindo de forma transversa os ataques que fez ao Ministério Público Federal. Emoldurando sua fala com desdém capaz de convencer os incautos sobre a inocência de José Dirceu, o revisor repete os argumentos apresentados pela defesa do principal acusado na Ação Penal 470.
O ministro repete que contra José Dirceu não há provas cabais e que as únicas existentes foram produzidas pela CPI dos Correios, tema que foi tratado com quase deboche por parte do magistrado da mais alta Corte do Judiciário.
É no mínimo absurdo deixar de considerar que o caixa do Mensalão do PT movimentou mais de R$ 300 milhões, sem o conhecimento de José Dirceu, fazendo com que o esquema criminoso de cooptação de parlamentares ficasse refém da independência Marcos Valério e Delúbio Soares para agir. Lewandowski chega às raias da galhofa ao afirmar que Marcos Valério era um “aventureiro que procurava negócios”. As recentes acusações feitas pelo publicitário mineiro mostram exatamente o contrário. Ademais, o mundo jamais conheceu, até então, um aventureiro que tivesse manipulado tanto dinheiro.
Como se estivesse incumbido de inocentar os caciques petistas, sob pena de o partido naufragar no pleito do próximo domingo (7), Ricardo Lewandowski insiste em tratar o caso como se fosse um assunto partidário, quando na verdade não passe de rumoroso escândalo de um governo conhecidamente corrupto, que se valeu do estratagema criminoso para aprovar no Congresso matérias de seu interesse. Fora isso, o revisor usa como argumento alguns depoimentos prestados por integrantes do PT e envolvidos no imbróglio.
Há no Direito Penal o que os magistrados consideram como circunstâncias do crime, suficiente para condenar qualquer cidadão que tenha transgredido os ditames legais, mas Lewandowski prefere fechar os olhos para o bom senso e servir de forma genuflexa e quase obediente aos chefes da quadrilha que tomou de assalto o Palácio do Planalto
Fica claro, desde já, que o Brasil está diante do maior atentado contra a democracia, que corre o sério risco de ser atropelada caso o restante da Corte confirme a absolvição dos principais responsáveis pelo Mensalão do PT.