Palmeiras: melhor começar uma obra nova do que tentar salvar uma construção em ruínas

(*) Ucho Haddad
(19.11.2012)

Quando surge o alviverde imponente / No gramado em que a luta o aguarda / Sabe bem o que vem pela frente / Que a dureza do prélio não tarda!

Eis a primeira estrofe do hino da Sociedade Esportiva Palmeiras, cuja equipe de futebol há muita sabia que o ápice da dureza do prélio não tardaria. Lamentavelmente, no domingo (18), o Palmeiras caiu para a Série B do futebol brasileiro. Mesmo cientes do perigo cada vez maior do rebaixamento, os palmeirenses receberam a notícia como se fosse a de uma catástrofe. E assim deve ser encarada, pois a considerar suas história e grandeza o clube deveria continuar na elite o esporte bretão.

Dez anos depois do primeiro rebaixamento, a cartolagem alviverde deu mostras de que não aprendeu a lição, repetindo erros conhecidos e imperdoáveis. Disputas internas, politicagem desnecessária e contratações equivocadas levaram o Palmeiras ao descenso. Para complicar a situação, em 2013 o clube terá de montar uma equipe muito competitiva caso queira participar como manda o figurino da Copa Libertadores da América. Do contrário, o fiasco só aumentará.

É inimaginável a queda de uma equipe que teve treinadores consagrados como Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho e Luís Felipe Scolari. Se o pior aconteceu, é porque algo de muito erra há nas coxias de um dos mais tradicionais clubes do futebol verde-louro. Uma equipe da grandeza do Palmeiras não pode ficar refém de apenas dois jogadores: Marcos Assunção e o argentino Hernan Barcos, que sem dúvida fizeram a diferença.

É preciso mudar a ordem das cosias dentro do Palmeiras. Diretores e conselheiros devem servir o clube, não dele se servir, como vem acontecendo vergonhosamente nos últimos anos. Conchavos, negociatas, decisões utópicas e palpites desconexos de torcidas organizadas marcaram a última década palmeirense.

O melhor exemplo de quem aprendeu a lição do rebaixamento é Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, que assumiu o comando do alvinegro paulistano após o escândalo capitaneado por Alberto Dualib.

Na noite de 1º de dezembro de 2007, um sábado, encontrei-me com Andrés Sanches no lobby de um hotel de Porto Alegre onde estava hospedada a equipe do Corinthians, que àquela altura lutava contra o rebaixamento. Logo após Andrés despedir-se do goleiro Felipe (hoje no Flamengo), disse ao presidente corintiano que o melhor para o clube, e também para ele, seria o rebaixamento, pois o mais correto é construir algo a partir dos alicerces do que remendar uma obra com rachaduras por todos os lados. O último gole de uísque desceu torto no gogó de Andrés Sanchez, mas ele compreendeu o que dissera um corintiano que jamais desejou o pior para o seu time do coração.

Assim deve ser no Palmeiras, que pela segunda vez tem a chance de começar do zero, da base, e alcançar uma situação que faça jus à história do clube. Para isso é preciso que os cartolas palmeirenses de todas as facções se unam em torno de um só projeto. Levar o Palmeiras ao lugar que merece.

Só assim os palmeirenses poderão entoar a segunda estrofe do hino do clube: “E o Palmeiras no ardor da partida / Transformando a lealdade em padrão / Sabe sempre levar de vencida / E mostrar que, de fato, é campeão!