Espalhando lama – Indicado pelo PMDB para presidir a Câmara dos Deputados, o potiguar Henrique Eduardo Alves está no meio de um furacão de denúncias, que deve ser reforçado no próximo final de semana com novas e indesejadas notícias. O PMDB não abre mão de comandar as duas Casas congressuais (Senado e Câmara), mas já paga um preço alto por essa insistência.
Enquanto Henrique Alves alega que as denúncias fazem parte do processo eleitoral, seus concorrentes percorrem o Brasil para cabalar votos que garantam a presidência da Câmara. Sandro Mabel, peemedebista de Goiás, tem cruzado o País a bordo de seu avião particular e não economiza dinheiro para convencer os companheiros de parlamento. Atual vice-presidente da Câmara, a capixaba Rose de Freitas, também do PMDB, faz a mesma procissão de Mabel e corre atrás de votos.
Há quem diga que a enxurrada denúncias contra Henrique Eduardo Alves é o que na política se chama de “fogo amigo”, o que não deve ser descartado, mas é preciso considerar que o PT pode estar por trás desse jogo rasteiro.
Encurralado cada vez mais pelos escândalos de corrupção envolvendo Lula e pela paralisia preocupante do governo de Dilma Rousseff, o PT faz de tudo para não perder seu lugar na vitrine da política nacional. Nesse momento de fragilidade, que é reforçada pelo sumiço de Lula, o PT resolveu analisar com mais empenho o cenário com o Senado e a Câmara nas mãos do PMDB.
E o quadro é pouco animador. O vice-presidente da República, Michel Temer, é do PMDB, legenda da qual é presidente licenciado. Em caso de impedimento de Dilma Rousseff, independentemente do motivo, quem assume a presidência é Temer. Se o vice-estiver ausente, o segundo na linha sucessória é o presidente da Câmara dos Deputados. O terceiro, o presidente do Senado Federal, que a partir de fevereiro deve ser o alagoano Renan Calheiros. Para complicar a situação do governo, que precisa aprovar no Congresso uma série de matérias para tentar reverter a pasmaceira que toma conta da economia nacional, o líder do PMDB na Câmara na próxima legislatura será o deputado Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, uma espécie de lobo da política verde-louro.
Resumindo, Dilma Rousseff voltará do carnaval com a fantasia de refém do PMDB. E nessas condições não pode pensar em deixar o Palácio do Planalto, nem mesmo para ir até a vizinha Taquatinga. O tão festejado noivado do PT com o PMDB agora tem enredo de filme de terror. Por conta disso, não se deve descartar a possibilidade de o PT estar alimentando as denúncias contra Henrique Eduardo Alves e incentivando candidatos contra Renan Calheiros. Até porque, política é negócio dos bons e ninguém quer sair perdendo.