Confusão estranha – Eleger o porta-voz de bicheiros do Rio de Janeiro, Simão Sessim, para a 2ª Secretaria da Câmara dos Deputados é um dos grandes absurdos cometidos na eleição da Mesa Diretora da Casa legislativa, mas a missão, que contou com 307 votos, não parou por aí em termos de descalabros.
Com o suado dinheiro do contribuinte, a Câmara dos Deputados tem à disposição um dos melhores sistemas de informática do País. Como se fosse pouco, o ex-presidente da Casa, Marco maia, que comandou a eleição, anunciou o aumento do número de cabines de votação, em relação à eleição anterior, como forma de evitar filas. O voto é eletrônico e conta com a leitura biométrica da impressão digital do parlamentar. Em outras palavras, a chance de erro é zero.
Às 14h48, a Câmara anunciou que o preposto dos bicheiros conquistara 307 votos, Waldir Maranhão (PP-MA), 101 votos, e Vilson Covatti (PP-RS), 76 votos. Quase três horas depois, Às 17h12, a Câmara corrigiu os números e informou que Maranhão teve 76 votos e Covatti, 101. Mudança estranha e tardia para uma eleição que contou com o mais moderno e seguro sistema de votação.
O Brasil ainda custará a ser uma nação organizada, acreditem ou não os nativos. Quando um pau mandado de bicheiros investigados pela Polícia Federal, e presos, alcança um cargo de direção na mais alta instância do parlamento, é porque o País precisa ser redescoberto e alguém terá de assumir o compromisso de clonar Pedro Álvares Cabral.
A sociedade brasileira precisa sair desse estado de letargia, pois uma eleição como a desta segunda-feira (4) em qualquer país responsável teria terminado na delegacia de polícia. Para que os cidadãos despertem para o óbvio, deixamos a seguir o poema “Abandonar as Velhas Roupas Usadas”, de Fernando Pessoa, conterrâneo de Cabral, que mostra a necessidade das mudanças.
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
que já têm a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares
É o tempo da travessia
E se não ousarmos fazê-la
Teremos ficado para sempre
à margem de nós mesmos.”