Zebra na cabeça – Imaginar que a extensa maioria dos políticos está interessada em mudar o Brasil para melhor e priorizar as necessidades do povo torna-se cada vez mais utópico. As eleições para as Mesas Diretoras do Senado Federal e da Câmara dos Deputados foram verdadeiros atentados contra o Estado Democrático de Direito, uma tapa na cara como escreveu a jornalista Marli Gonçalves em artigo que publicamos nesta segunda-feira (4).
As denúncias de corrupção foram insuficientes para barrar a eleição dos peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Henrique Eduardo Alves para as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente. Prevaleceu o conchavo espúrio, que vilipendia a honra de cada cidadão deste País.
Mas o escárnio não se limitou aos dois principais cargos do Congresso Nacional. Manchado pelas graves denúncias de corrupção e outros crimes envolvendo Paulo Maluf e pelas condenações de Pedro Henry e Pedro Correa pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), o Partido Progressista conseguiu a proeza de eleger para a 2ª Secretária da Câmara um parlamentar intimamente ligado aos bicheiros do Rio de Janeiro, Simão Sessim.
No relatório da Operação Hurricane, da Polícia Federal, deflagrada em 2007 para investigar e prender bicheiros e seus representantes, constam os nomes de Simão Sessim e de Marina Maggessi, esta última deputada federal pelo Rio de Janeiro à época da ação.
Sessim é conhecido no Rio como interlocutor dos bicheiros no universo político, deixando-se facilmente fotografar ao lado dos contraventores em várias ocasiões, inclusive durante o Carnaval, período do ano em que consegue convites para os apaniguados assistirem aos desfiles no Sambódromo em camarotes.
O ex-prefeito de Nilópolis, Sérgio Sessim (PP) é filho de Simão e sobrinho de Aniz Abraão David, chefe maior da Beija-Flor. O antecessor de Sérgio Sessim na prefeitura de Nilópolis foi Farid Abraão, irmão do patrono da escola de samba e que comandou a cidade por oito anos.
Simão Sessim (PP), agora contabiliza em seu currículo nove mandatos consecutivos como deputado federal e é um dos defensores da liberação do jogo no País. Em um dos trechos do relatório da Operação Hurricane, a PF destaca: “A análise do material até agora produzido traz indícios e provas de que o grupo teria contribuído para a campanha eleitoral de alguns candidatos, bem como demonstrou que alguns integrantes mantêm contato direto com integrantes do Parlamento federal, inclusive de modo espúrio, indicando existência de pagamentos rotineiros a determinados agentes políticos”.
Mais adiante, em outro trecho do documento, a Polícia Federal foi incisiva: “Os ‘tios’ [bicheiros e bingueiros do Rio] estão realizando gestões para aprovação do projeto. (…) Aniz Abrahão David está mantendo contatos com Simão Sessim e outros deputados com a finalidade de legalizar a atividade de exploração do jogo”.
À época, Simão Sessim negou que tenha sido procurado por Aniz Abrahão David para esse fim – o que seria um absurdo, pois além do parentesco a dupla convive íntima e constantemente –, mas disse que é a favor da liberação do jogo no Brasil. Mais uma daquelas coincidências que nem o sacristão da igreja da esquina mais próxima acredita.
Não é de se estranhar a decisão do PP de eleger Simão Sessim para 2ª Secretária da Câmara dos Deputados, uma vez que Paulo Maluf vendeu seu apoio ao petista Fernando Haddad durante a disputa pela prefeitura da maior cidade brasileira, São Paulo, recebendo em troca um cargo no Ministério das Cidades e outros tantos na administração paulistana.
O mais bizarro nessa epopeia do PP é que Simão Sessim estará à frente de uma secretaria cujas atribuições são providenciar passaportes diplomáticos aos parlamentares, solicitar notas de visto ao Itamaraty e fornecer informações diversas acerca dos passaportes diplomáticos. Eis o Brasil, o país da piada pronta!