Quem te viu – A marca mais interessante do Partido dos Trabalhadores não é a estrela com a insígnia da legenda, mas a facilidade com que os petistas rasgam o discurso do passado. Durante anos a fio, o PT engrossou um coro oposicionista que bradava “Fora FMI”, como se o Fundo Monetário Internacional não fosse uma bóia de salvação para países com dificuldades financeiras, mas um câncer que corrói a dignidade da população.
Já no poder, Lula, o mais gazeteiro de todos os “companheiros”, disse certa vez que “é chique emprestar dinheiro ao FMI”. Na ocasião, o governo brasileiro fez um aporte de US$ 10 bilhões no Fundo. Ora, se o FMI era tão nocivo, por qual razão alimentou essa nocividade? Por uma razão muito simples. Não há nada mais direitista não universo do que um representante da esquerda no poder. E quando isso acontece a incoerência é rainha.
Quando disputava a reeleição em 2006, tendo como adversário o tucano Geraldo Alckmin, o messiânico Lula concordou com o golpe rasteiro de sua assessoria de campanha, que disseminou de forma viral a mentira de que o PSDB se retornasse ao Palácio do Planalto privatizaria a Petrobras. Uma maluquice tão desmedida que apenas uma camisa de força era insuficiente para conter o destrambelhado.
Muito pior do que o conteúdo da mentira que Lula lançou ao ar, o governo do PT conseguiu a proeza de em apenas três anos dilapidar um terço do valor da Petrobras, ação que se deu no vácuo da incompetência e da aversão dos palacianos à palavra planejamento.
Como se fossem fracos de memória, os petistas passaram a privatizar tudo o que não tinham e ainda não capacidade para realizar, como aconteceu no caso dos aeroportos, setor que recebeu de Lula uma promessa de investimento de R$ 5 bilhões.
Agora, de olho na reeleição e sem ter mostrado até então a que veio, Dilma Rousseff ordenou aos assessores a elaboração de um pacote de novas concessões, cujo objetivo é eliminar, até o final de 2014, o atual déficit de infraestrutura no Brasil. Estimado em R$ 500 bilhões, essas concessões que estão sobre as escrivaninhas palacianas repetem as anteriores e não passam de privatizações disfarçadas. Algo parecido com um chinês dono de senzala.