(*) Ucho Haddad –
Lula, quando me dirijo de forma direta à presidente Dilma Rousseff, a sua invenção eleitoral, peço licença para abrir mão da formalidade, dispensando o “Vossa Excelência” como forma de garantir a fluidez do texto. Em relação a você não farei o mesmo, porque presidente-adjunto não é coisa alguma e por isso não merece qualquer reverência. Na verdade, o que um enxerido como você merece é impublicável, sem contar que a censura petista é covarde e leviana. Não pense que lhe tratarei de igual para igual, pois, além de não ser igual a você, as diferenças que nos separam são estratosféricas e abissais.
Você é um desavisado oportunista que acredita ser neto de Messias e primo de Aladim. Eu, ao contrário da sua soberba, sou um jornalista que não ultraja a própria opinião e muito menos passa no caixa do Palácio do Planalto. Na verdade, Lula, sou um obcecado pelo aprendizado, pela leitura, pelo conhecimento. E esses temas não fazem parte do seu cotidiano, que na última década foi marcado por bravatas, ufanismos e escândalos de corrupção.
Lula, muita gente o endeusa e é isso que faz mal ao País. Afinal, não se tem notícia até então de que um preposto de Lúcifer tenha se transformado em divindade. Lula, você é um ator de mão cheia e mereceria um prêmio por esse seu talento inconteste. Encena com destreza a bondade, mas é a fulanização do mal. O pior nessa epopeia é que você sofre de mitomania incurável e trata a coerência como se fosse mulher de bordel. Não, Lula, a vida não é assim como você pensa que é.
Há dias, depois de mais uma de suas tantas ousadias verborrágicas, desafiei-o para um debate, do tipo olho no olho e sem a ajuda de assessores e sem anotações. Debate de gente grande, que sabe o que fala, que entende do assunto. Lula, você certamente nem soube desse desafio porque odeia ler e não suporta o contraditório. Mas se tomar conhecimento e estiver disposto, fique à vontade para fixar o local e tempo de duração do debate. Acima de uma hora de discussão civilizada eu topo qualquer tempo. Se quiser podemos fazer desse debate uma prova de resistência para ver quem desiste primeiro.
Diferentemente de você, Lula, não sou o dono da verdade, o oráculo do Senhor, o maioral do universo. Apenas tenho opinião própria e raciocínio lógico. O que em um país como esse que o elegeu não é pouco. Admita, Lula, sem problemas de autoestima, que um debate entre nós seria interessante. Para não dizer que seria um massacre. Não porque eu seja um cidadão violento, pelo contrário, sou da paz. Mas o que falta a você sobra para mim. Tutano, lógica, massa cinzenta. Não se apoquente Lula, pois Deus sabe o que faz. Imagine, Lula, um ser com o seu perfil e com um cérebro privilegiado. Seria o fim de todas as galáxias. O Mensalão do PT teria chegado a Vênus. Em Marte já teria um sindicato com ETs fazendo greve. A companheirada já teria surrupiado o anel de Saturno.
Lula, deixemos de lado as eventuais gatunagens astronômicas desse ser imaginário, que por sorte não existe, e passemos à prática. Quando fiz o desafio que mencionei, de chofre pensei que poderia lhe causar algum constrangimento no tocante à concatenação de ideias, à análise dos números verdadeiros da última década, que em sua opinião foi a melhor de todas para o Brasil desde que Cabral por aqui se perdeu. Pensei até em mudar o tema do nosso debate, que por enquanto é só meu, para lhe deixar mais confortável. Pensei muito, mas não há como deixar de discutir o Brasil que você e sua horda arruinaram.
Mas como homem de fé que sou, sempre acredito que o Criador atua nos momentos certos. E nessa quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013, você, enquanto comemorava os 30 anos da CUT, surgiu à minha frente como a luz que buscava. Em seu discurso à claque de sindicalistas e sindicalizados, você falou em imbecil. Pronto, Lula, eis um assunto que você entende profundamente, mas eu, por intervenção divina, desconheço. Tudo bem, Lula, eu não tenho medo do bom combate, até mesmo quando ele se dá com um imbecil. Você deve estar pensando que o imbecil nessa história sou eu, mas não. Lula, se imbecil existe nesse caso, faço questão que você assuma o seu devido papel. Sem encenações, seja natural. Fique bem à vontade.
Lula, quando a dificuldade se apresenta você apela à primeira besteira que surge no pensamento. Há algum tempo, em um de seus discursos inflamados que não me convencem, você disse que jamais seria derrotado por um vagabundo qualquer. Concordo com você Lula, se for para perder que seja para alguém igual ou melhor. Assim até o vagabundo consegue fazer um “upgrade” no currículo. Quando algum escândalo de corrupção com a sua rubrica vem à tona, você logo apela e diz que tudo não passa de uma tentativa de golpe das elites e de setores da imprensa. Lula, não se faça de discriminado, pois nada pode ser mais elitista do que a sua própria figura. Você finge bem, é verdade, sabe falar errado quando interessa, mas aquele piqueteiro de porta de fábrica é hoje um elitista com todas as letras.
Lula, pense bem na diferença entre o que você vocifera aos incautos e o que pratica. Você diz que nos últimos dez anos o Brasil avançou, foi descoberto, como se 22 de abril de 1500 tivesse mudado para 1º de janeiro de 2003. Lula, você foi descoberto nesse período em um sem fim de escândalos, mas sempre disse que de nada sabia. Essa sua estratégia é boa. Sabe, Lula, nesses dez anos você descobriu muitas coisas. Descobriu o bem bom, descobriu a mordomia do poder, descobriu um jeito de comprar a consciência de políticos prostitutos, descobriu o dinheiro dos subterrâneos, descobriu como transformar a sede do governo em usina de maracutaias. Lula, até a loja da Cartier, em Nova York, você descobriu e até agora não respondeu a pergunta que lhe fiz. Tudo bem, Lula, o tempo passou, o relógio está em São Bernardo e a vida segue.
Lula, eu não tenho essa inteligência e virtuosidade com que você foi presenteado ao nascer, mas se tivesse inventaria uma máquina do tempo. Não para ir em direção ao futuro, mas para voltar ao passado com direito a algumas paradas. Queria viajar no tempo para saber a opinião de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, João Goulart e Abraham Lincoln a seu respeito. Afinal, você se comparou a todos eles e na democracia o direito de defesa não pode ser cerceado. Prometo que jamais permitira que a honra de sua querida mãe, Dona Lindu, fosse violada. Até porque algumas mães não são culpadas pelos filhos que trazem ao mundo. Fazemos assim: lá no passado eu protejo Dona Lindu com as figuras às quais você ousou se comparar. Cá no presente, Lula, você protege Dona Zuza, a minha mãe. Se não for muito sacrifício, proteja também a minha mãe de criação, Dona Chica. Dessa forma em algum quesito estaremos empatados. E nossas mães salvas da maledicência.
Se no túnel do tempo conseguir chegar até a pretérita Galiléia, por certo perguntarei a Jesus Cristo o que ele pensa a seu respeito. Até porque você já se comparou a Ele. Mas Lula, antes que eu chegue lá, me fale alguma coisa sobre o crucifixo que sumiu do Palácio do Planalto, porque Jesus Cristo é capaz de perguntar se você está de sacanagem. Você deixou-o pregado na cruz, enfiou-o na bagagem presidencial e não revelou o paradeiro do Homem. Lula, isso, assim como enganar o povo, é pecado.
Lula, assim como Dona Lindu, minha mãe, Zuza, também nasceu analfabeta. Viu só, mais um ponto em que somos iguais. Acontece que Zuza estudou, aprendeu e me ensinou que é feio referir-se às outras pessoas chamando-as de “aquela gente”. Ela, minha mãe, também me disse que não se deve chamar os adversários de vagabundo, idiota e imbecil. Você, Lula, é magnânimo e age como bem quiser, pois os seres supremos têm à disposição o que os reles mortais desconhecem. Como um reles jornalista – reles foi a palavra que você usou para se referir a Francenildo Costa, o Nildo, chamando-o de reles caseiro – atenho-me à elegância, pois fui criado para ser um cavalheiro, e prometo não levar o nosso debate ao rés do chão dos botecos que você frequentou nos tempos em que ainda não era um integrante da elite e se empolgava com os aplausos etílicos dos que encostam o umbigo no balcão depois da 5 horas da tarde.
Sabe, Lula, você acredita que a sua espontaneidade burra é um detalhe positivo da sua personalidade. Não, nem sempre o que pensamos pode ser dito ou escrito. Se escrevesse ou dissesse tudo o que penso ao seu respeito, por certo já estaria morto. Imagine, Lula, só porque revelei algumas gravações telefônicas do caso Celso Daniel fui ameaçado de morte. Agora reflita, Lula, o que já teria acontecido comigo se eu tivesse externado de alguma maneira o que de fato penso sobre você. A minha família inteira teria sido trucidada pela obediente e obtusa horda que o segue.
Lula, você não é Deus e muito menos o salvador do Universo. Não é parente de Messias e nem de Aladim. Você é um ignorante esperto e articulado, que acredita que o mundo tem o dever de se ajoelhar a seus pés. Lula, para os seus iguais, lá na CUT, você usou o termo “imbecil” para se referir aos formadores de opinião. Para você, Lula, imbecil é aquele que forma opinião que não lhe interessa, que não lhe serve, que contraria os seus propósitos escusos. Se isso lhe aborrece, Lula, é porque o formador de opinião de imbecil nada tem.
E quem lhe deu o direito de chamar de imbecil qualquer formador de opinião? Lula, o seu narcisismo o tem levado muito para diante do espelho. Cuidado, pois isso é perigoso e você pode acabar acreditando naquilo que vê.
Lula, quando você usou a palavra “vagabundo” para atacar seus adversários – e eu sou um deles –, imediatamente devolvi a ofensa. Agora você classifica os formadores de opinião – e eu sou um deles – de imbecis, e de igual modo eu devolvo a ofensa. Você pode até pensar que eu me ofendo com pouco. Não Lula, você é a personificação da ofensa e alguém precisa lhe deter. Enquanto Jesus Cristo, não aquele ao qual você se compara, permitir, serei uma pedra no seu caminho.
Imbecil, Lula, é aquele que acredita estar acima do bem e do mal, que finge ser do povo quando na verdade é um excludente contumaz. Lula, você tem certeza que é um formador de opinião, quando na verdade é um imbecil. E você pensa assim porque transformou 40 milhões de incautos, com desejo de consumo reprimido, em um oceano de imbecis endividados.
Lula, pense o que quiser de mim, mas não use a palavra imbecil para qualificar aqueles que conseguem mostrar ao povo quem de fato você é e o que busca. Se milhões o adulam porque desconhecem a verdade, há outros tantos milhões que não são imbecis, como você acredita que são. Para você, Lula, imbecil é quem produz o contraditório. Para mim, imbecil é aquele que não aceita a opinião alheia e parte para o jogo rasteiro. E no jogo rasteiro reconheço que você merece um título de doutor honoris causa.
Se no seu íntimo você gostou da carapuça e ela lhe serve como luva de fina pelica na mão de madame, sem ter de fazer bainha ou apertar a cintura, vista-a, saia pelo mundo com a sua própria identidade e seja feliz na sua freguesia. Lula, só não cometa a imbecilidade de repetir o erro de alguns companheiros, que acionam os gorilas de aluguel do seu partido para me ameaçarem, fazerem telefonemas canhestros, aterrorizarem a minha família, invadirem meus computadores, procurarem integrantes da Justiça que me dedicam amizade leal e verdadeira para dizer que serei morto.
E PT saudações, Lula, porque de imbecis o Brasil está cansado!