No país da Copa, irresponsabilidade do Estado soterra pessoas e provoca filas quilométricas nos portos

Paraíso da incoerência – Em 31 de outubro de 2007, quando a FIFA anunciou, em Zurique, que o Brasil sediaria a Copa do Mundo de 2014, o ucho.info imediatamente noticiou que se tratava de um grande equívoco da entidade máxima do futebol e uma monumental irresponsabilidade do governo do então presidente Luiz Inácio da Silva. Por questões óbvias, mas não lógicas, fomos criticados de todas as formas

Acusados de torcer contra o Brasil, alertamos para o fato de que o País tinha, como ainda tem, uma enorme lista de prioridades em termos de investimentos, que faz com que a realização de um evento dessa magnitude seja um crime contra a pátria. O tempo passou, algumas vozes engrossaram o nosso coro, mas a dura realidade está exposta em todos os cantos para ser conferida.

Em uma nação onde morros despencam com a força da chuva e arrastam dezenas de vidas, importante é despejar dinheiro público em estádios que, passada a Copa, serão “elefantes brancos”. Em um país onde a descarga de soja no porto de Santos demora um mês – no de Paranaguá a espera é de dois meses –, a prioridade é torrar o dinheiro do contribuinte no financiamento de praças esportivas, responsabilidade que deveria ser da iniciativa privada.

No Rio de Janeiro, o governo estadual optou por torrar verdadeiras fortunas para reerguer o estádio do Maracanã, ultrapassando escandalosamente o orçamento inicial, enquanto os morros de cidades como Petrópolis continuam a despencar. A capital fluminense alaga em dia de chuva mais forte, mas a Copa é prioridade.

Em São Paulo, mais importante estado da federação, as filas de caminhões que aguardam para entrar no Terminal de Exportações do Guarujá chegam a 25 quilômetros e obrigam os motoristas a uma espera de pelo menos quatorze horas. Mesmo assim, o governo federal, que é responsável pelo porto de Santos, achou por bem abrir a cornucópia oficial na direção dos estádios que servirão de palco para o mundial de futebol.

O risco de o Brasil protagonizar um vexame durante a Copa cresce a cada dia. O estádio do Corinthians, que de acordo com o cronograma da FIFA deve abrigar o jogo de estreia da competição, pode ter as obras interrompidas a qualquer momento. O empréstimo do BNDES continua empacado e o projeto de renúncia fiscal da prefeitura paulistana continua no papel. Se dinheiro novo não chegar aos cofres da empreiteira responsável pela construção do Itaquerão, as obras devem parar.

Em Brasília, o governo do Distrito Federal decidiu investir R$ 1,5 bilhão no novo estádio Mané Garrincha, em região onde o futebol profissional é inexpressivo. Em Cuiabá a situação não é diferente e a construção do estádio de igual modo enfrenta problemas.