Governo de Dilma Rousseff tem postura dúbia em relação à democracia e à ingerência externa

(Foto: ABr)
Dois pesos – O jornal paraguaio “ABC Color” referiu-se, em editorial, ao chanceler Antonio Patriota como “canalha intelectual” pelo fato de o chefe da diplomacia brasileira ter reconhecido a vitória do chofeur bolivariano Nicolás Maduro, mas para o ucho.info foi um excesso redacional, pois há como ser contundente sem perder a compostura e a elegância. Quando a discordância migra para seara da briga de rua, o melhor é sair de cena, uma vez que a razão e a liberdade de opinião serão atropeladas.

Nosso posicionamento em relação à postura do “ABC Color” não significa que concordamos com a eleição de Nicolás Maduro, que foi marcada por fraudes de todos os naipes e seguida por truculência e discursos conhecidamente embusteiros. Fato é que reconhecer e endossar a vitória do herdeiro político de Hugo Chávez foi um enorme equivoco diplomático, já que o assunto deve ser resolvido internamente, sem o apoio de outras nações à violação da democracia.

No último sábado (20), a Agência Brasil trouxe entrevista em que Antonio Patriota, ao falar sobre a eleição presidencial venezuelana e a polêmica que envolve o vizinho país, disse que naquilo que depender do Brasil, as autoridades e a sociedade da Venezuela resolverão o impasse atual, sem interferência externa, exceto se for para contribuir na busca do consenso.

“A era da ingerência por parte de potências hemisféricas ou de outras regiões está ultrapassada”, destacou Patriota, que lembrou que não há data definida para o retorno do Paraguai ao Mercosul.

Mesmo com esse discurso supostamente democrático de Antonio Patriota, a posição do governo brasileiro é confusa em relação ao tema. As palavras do chanceler servem para a Venezuela, mas não para o Paraguai, que no domingo (21) elegeu o polêmico empresário Horacio Cartes, do Partido Colorado, que governou o país durante sessenta anos e enfrentou um interregno com a vitória de Fernando Lugo, em 2008.

Para mostrar a dualidade discursiva do governo brasileiro, a presidente Dilma Rousseff deve condicionar o retorno do Paraguai ao bloco econômico à aprovação, por parte do Congresso paraguaio, do ingresso da Venezuela no grupo. Além de uma análise posterior por parte dos países que integram o bloco.

O Paraguai foi suspenso temporariamente do Mercosul após o impeachment do então presidente Fernando Lugo, em junho de 2012. Por ocasião dos fatos, a presidente Dilma Rousseff saiu em defesa de Lugo e capitaneou um movimento que culminou com a suspensão do Paraguai. Aproveitando o momento, Brasil, Argentina e Uruguai decidiram pela entrada da Venezuela, contra a decisão do Paraguai. O ingresso de um novo membro no Mercosul depende de aprovação unânime.

Esses dois lados do discurso palaciano ratificam a disposição do governo de Dilma Rousseff de proteger os companheiros de esquerda e dificultar a vida dos que não rezam pela cartilha de Havana.