Sem opinião – Para quem bateu no peito durante dias seguidos e tentou enquadrar o Supremo Tribunal Federal, o comportamento dos peemedebistas Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, presidentes do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, respectivamente, foi o que se pode chamar de explicitamente covarde. Representando a classe política nacional, mostraram ao País como funciona o parlamento, deixando margem para que o cidadão conclua as consequências do escambo imposto de forma acintosa pelo Palácio do Planalto.
Após uma crise institucional entre os Poderes Legislativo e Judiciário, por conta da PEC 33, que coloca algumas decisões do Supremo na dependência do crivo do Congresso Nacional, Renan e Henrique Alves reuniram-se com o ministro Gilmar Mendes para buscar um entendimento. Na verdade, o discurso de entendimento não passou de conversa fiada, pois não havia a menor chance de a empreitada obtusa de deputados e senadores dar certo.
Ao deixarem o encontro com o ex-presidente do Supremo, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves cogitaram a possibilidade de arquivamento da Proposta de Emenda Constitucional número 33, que ficou conhecida como PEC da Discórdia. A encenação dos parlamentares deve durar alguns dias mais, até que a opinião pública esqueça o imbróglio que colocou os congressistas na berlinda.
Como antecipamos na edição de segunda-feira (29), deputados e senadores mostraram ao País que são extremamente competentes na arte da incompetência. Por mais estranho que possa parecer esse paradoxo, os parlamentares não tiveram sensibilidade necessária para deixar a votação de matéria tão polêmica para depois do julgamento dos recursos apresentados pelos condenados na Ação Penal 470 (Mensalão do PT).
Se de chofre a proposta ultrapassava as fronteiras do absurdo, a partir de agora ficou sepultada, o que não significa que o desejo palaciano de implantar uma ditadura socialista no Brasil não leve à retomada da matéria mais adiante.