Virou baderna – No momento em que o Senado se ajoelha diante das absurdas ordens do Palácio do Planalto, levando a votação, em tempo exíguo, a Medida Provisória 595 (MP dos Portos) o senador José Sarney (PMDB-AP) está em Nova York, onde participa na noite desta quinta-feira (16) da entregado prêmio “Homem do Ano”, concedido anualmente pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
Nababescamente instalado no The Waldorf Astoria, o lendário hotel de Nova York e um dos mais caros e badalados da cidade, Sarney participará de um rico jantar em que o homenageado será o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Beira o absurdo condecorar alguém que preside uma instituição financeira oficial que empresta o suado dinheiro do contribuinte apenas aos amigos dos atuais donos do poder, como se inexistissem no País regras básicas e lógicas para a concessão de crédito, mesmo que o objetivo terceiro seja o desenvolvimento econômico e social.
Maior caudilho da história do Maranhão, pior do que seu antecessor, Vitorino Freire, o ex-presidente do Senado deveria se avexar de comparecer a um evento tão luxuoso, enquanto em sua terra natal cidadãos se acostumaram com a dureza perene a fome.
Como tudo na vida tem ao menos uma explicação, não importando se fraca e pouco convincente, José Sarney, que fez da política um negócio familiar, pode ter ido a Nova em busca de dicas para a realização de um evento como o desta quinta-feira, pois há no currículo do maranhense que é senador pelo Amapá pelo menos uma pessoa que merece um prêmio ainda maior, o de Homem do Século, por que não o de Bondoso do Milênio.
Trata-se de Rogério Frota de Araújo, dono da empreiteira Aracati Construções, Assessoria e Consultoria Ltda – posteriormente rebatizada com o nome de Holdenn Construções, Assessoria e Consultoria –, empresa que pagou dois apartamentos localizados na elegante região dos Jardins, em São Paulo, utilizados pela família Sarney.
Frota de Araújo é amigo dos filhos do senador José Sarney, em especial do empresário “globetrotter” Fernando Sarney, e participa com frequência de obras oficiais do setor elétrico, nicho do governo federal que é dominado pelo déspota maranhense que recheou as páginas do livro “Honoráveis Bandidos”.
A falta de memória dos brasileiros e a letargia em que se encontra a sociedade arremetem escárnios como esse na vala do esquecimento, dando aos protagonistas de escândalos inenarráveis a senha da impunidade. O Brasil não pode mais se curvar pacifica e silenciosamente diante de situações como as aqui relatadas, independentemente da ideologia de seus protagonistas.
Os brasileiros não podem compactuar com os seguidos desmandos de José Sarney, assim como não devem aceitar as decisões obtusas do BNDES no que tange a concessão de crédito aos amigos do rei.
Enquanto isso, em Nova York, Sarney e Luciano Coutinho se preparam para desfilar, logo mais, como estrelas decadentes na passarela da hipocrisia oficial. Tudo sob os olhares extasiados de uma claque obediente e que não enxerga um palmo adiante do nariz, que dirá a dura realidade que leva o Brasil a se aproximar do despenhadeiro da crise.