Escondendo a verdade – É difícil decifrar se o problema é preguiça ou genuflexão, mas a imprensa brasileira erra sobremaneira ao adotar a superficialidade na divulgação de fatos relacionados ao governo, em especial os que envolvem a economia.
Verdadeiro quebra-cabeça que exige disposição e raciocínio de quem não tem medo de decifrar a verdade, a economia brasileira tem mostrado o fracasso de um governo que tem se agarrado à mentira e aos factóides para esconder sua incompetência. Possivelmente por ser religiosa e nababescamente recompensada, os principais veículos de comunicação evitam mostrar o óbvio.
Na segunda-feira (20), o Boletim Focus, do Banco Central, divulgou a expectativa do mercado financeiro no tocante ao crescimento da economia em 2013: 2,98%. O que fique aquém do ufanista índice de 4,5% anunciado por Guido Mantega, o ainda ministro da Fazenda. A situação em relação ao avanço do PIB é tão grave, que renomados economistas apostam em situação ainda pior: crescimento abaixo de 2%, com chances de o resultado ser menor do que o registrado em 2012 (0,98%).
Nesta terça-feira (21), o Ministério do Trabalho divulgou os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O ministro Manoel Dias anunciou os resultados do mês de abril, com avanço de 0,49% em relação ao mês anterior, mas a preocupação recai sobre o número do primeiro quadrimestre do ano. No período de janeiro a abril de 2013 foram criados 503 mil novas vagas, contra 702 mil do mesmo período do ano anterior, o que representa queda de 28% na geração de empregos.
Esse cenário por si só é preocupante, pois o governo vem adotando medidas para desonerar a folha de pagamento em alguns segmentos da indústria, mas quem salvou o Caged neste quadrimestre, como quase sempre acontece, foi o setor de serviços. O que traduz de forma imediata o calvário enfrentado pelo setor produtivo. A situação só não é pior porque o custo de demissão é alto e os empresários preferem apostar no escuro a colocar a mão no bolso. Mesmo assim, a imprensa acredita ser melhor noticiar o fato de forma isolada e seca, não se aprofundando na economia como um todo.
O governo afirma que a inflação tende a cair nos próximos meses, mas a realidade do cotidiano ainda está distante do ufanismo palaciano. Ao tentar justificar a previsão de crescimento do PIB para este ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, não foi convincente. Tombini disse que a recuperação da economia é compatível com o controle da inflação, que segundo o presidente do BC cairá nos próximos três meses (maio, junho e julho). Vale lembrar que o BC, que tem a missão de puxar a inflação para o centro da meta, deve aumentar novamente a taxa Selic na próxima reunião do Copom.
No acumulado de doze meses, o mais temido fantasma da economia, a inflação, está em 6,49%, ou seja, a um suspiro do teto fixado pelo governo, que é de 6,5%. O recuo anunciado por Tombini tende a ser nulo, uma vez que economistas apostam em alta da inflação no segundo semestre deste ano.
Há algo errado e grave nessa epopeia, até porque os brasileiros têm alterado costumeiramente os hábitos de consumo, o que tem provocado a estabilização de alguns preços e queda de outros. Em outro vértice, mesmo diante de quadro nada animador, a Receita Federal informou que a arrecadação deve crescer em 2013, chegando a até 3,5% acima da inflação. Ora, se o crescimento econômico deve ficar muito aquém do previsto, a produção industrial está em queda, o consumo em processo de recuo, a geração de empregos despencando, o poder de compra dos salários corroído periodicamente, a arrecadação tributária só crescerá neste ano porque a inflação real é muito maior do que a oficial, que está fora de controle.
No vácuo dessa conjunção de números, pelo menos duas perguntas não querem calar: 1) Até quando o governo do PT continuará enganando a opinião pública? 2) Mesmo tendo destruído a economia em uma década, como Lula consegue conquistar honrarias ao redor do planeta?