Mudar é preciso, mas é importante conhecer o caminho da mudança

Editorial –

Muito se falou nos últimos dias em dar um basta ao cenário de degradação que toma conta do País a partir da inoperância do Estado e da corrupção que besunta a classe política. De fato a mudança é necessária, mas não será sem conhecimento de causa que isso ocorrerá de forma efetiva.

Muitos dos milhares que foram às ruas empunharam cartazes e gritaram palavras de ordem, o que é excepcional, mas é importante que a mudança tenha consistência e principalmente conteúdo. A maioria dos manifestantes é de jovens que desconhecem os meandros da política e sequer imaginam a complexidade de leis que dificultam muitas das mudanças pleiteadas nos protestos.

Há, sem dúvida alguma, medidas que podem ser tomadas de forma imediata, mas outras dependem de reformas profundas e demoradas. É o caso da redução das tarifas de transporte público. Não se faz isso com uma simples canetada. Há no conjunto legal vigente obstáculos que impedem mudanças meteóricas, pois os Executivos, a quem cabe essa tarefa, estão sujeitos a leis orçamentárias e à Lei de Responsabilidade Fiscal. Não se pode atropela o orçamento apenas porque um setor da sociedade protesta contra determinado assunto.

A composição de uma tarifa de transporte engloba diversos fatores, os quais precisam ser analisados isoladamente em caso de mudanças. E muitas dessas mudanças dependem de aprovações no âmbito do Legislativo. O Brasil vive sob um regime democrático que prevê a participação dos três Poderes na condução do Estado, cada qual em sua seara. Desrespeitar essa definição mandatória da Constituição Federal é colocar o País na corda bamba da ilegalidade.

O nascedouro desses protestos foi a discordância de um grupo em relação às tarifas de transporte em São Paulo. O movimento tinha viés político encomendado, apesar de seus líderes negarem o fato, ao mesmo tempo em que admitem a participação de alguns partidos na organização dos eventos. Fato é que o movimento, cujo objetivo primeiro era colocar o governador Geraldo Alckmin em sinuca política, saiu do controle dos organizadores e dos baderneiros de aluguel que se infiltraram no grupo e garantiram os atos de vandalismo.

Os líderes do Movimento Passe Livre, ligado a partidos de esquerda, são avessos ao diálogo, atitude típica de quem não busca a solução, mas, sim, a instalação do caos pura e simplesmente. A recusa em negociar com autoridades estaduais o trajeto do protesto foi mais um sinal do conceito anárquico que emoldura o movimento. O tema se confirma com a teimosia dos líderes em afirmar que o objetivo dos protestos é a imediata redução das tarifas de transporte.

O MPL acreditou que estava no controle da situação, mas foi dragado por um descontentamento popular generalizado que tomou conta dos protestos. À questão das tarifas de transporte somaram-se temas muito mais importantes e urgentes, como o fim da corrupção, maior investimentos em saúde e educação, a derrubada da PEC 37, entre tantos outros. Para não perder visibilidade, os líderes do MPL ainda resistem na vitrine da fama repentina, contando com a ajuda de utópicos jornalistas de esquerda que não apenas lhes cedem espaço em alguns veículos de comunicação, mas induzem entrevistas com o objetivo de fazer as vontades de uma parcela dos atuais donos do poder.

Se o preço das passagens de ônibus, metrô e trem ficar como está, o que deve acontecer, o brasileiro terá conquistado um grande avanço, pois o ganho maior se materializou no recado que foi mandado principalmente aos ocupantes do Palácio do Planalto, onde a preocupação se esparramou inesperadamente por todos os cantos.

Em termos econômicos o Brasil cambaleia de forma contumaz à beira do despenhadeiro da crise, enquanto no âmbito político caminha a passos largos na direção de uma ditadura socialista, nos mesmos moldes da que tem levado a vizinha Venezuela ao ralo do caos.

De nada adiantará uma eventual mudança se a política não despertar o interesse daqueles que a pleiteiam. O que não se pode permitir é o surgimento de um vazio no horizonte, pois é nessa condição que brotam os oportunistas carregando em seus embornais as mais macabras receitas de totalitarismo. O Brasil precisa preservar a democracia, sim, mas é necessário reforçar a liberdade e assumir responsabilidades. A tarefa não é das mais suaves, mas alguém precisa liderar o compromisso de retirar a tarrafa da cidadania do mar de lama em que se transformou a política nacional. É tarde, mas ainda dá tempo!

O Editor