Imprensa abusa do sensacionalismo ao retratar acidente da TAM sem buscar a verdade dos fatos

Ausência de ética – O ucho.info havia decidido não mais comentar sobre o trágico acidente com o Airbus da TAM no Aeroporto de Congonhas, ocorrido em 17 de julho de 2007, mas diante das recentes reportagens veiculadas por diversos órgãos de imprensa resolvemos rever nosso posicionamento.

Diferentemente do que pensam muitos profissionais da imprensa, em especial a brasileira, jornalismo não se faz na esteira do sensacionalismo, mas com base na verdade dos fatos. As matérias desta quarta-feira (17), quando completa seis anos da maior tragédia da aviação nacional, levam à opinião pública, mais uma vez, uma realidade distorcida dos fatos.

O processo referente ao caso, que tramita na Justiça Federal, tem como réus Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marco Aurélio dos Santos de Miranda, diretor de segurança de voo da TAM, e Alberto Fajerman, vice-presidente de operações da companhia aérea. Os três respondem por crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo.

É compreensível a dor dos familiares das vítimas que morreram no acidente, mas a imprensa não pode induzir a condenação de pessoas inocentes, enquanto os verdadeiros culpados continuam impunes. Quem conhece minimamente as covardias que permeiam o poder e viveu os bastidores do trágico acidente aéreo sabe que a verdade foi abafada a mando de políticos que à época estavam instalados no Palácio do Planalto.

Luiz Inácio da Silva se recuperava do efeito colateral do Mensalão do PT, o maior escândalo de corrupção da história nacional, e um carimbo de serial killer em seu currículo era a última coisa que poderia acontecer na conturbada trajetória do ex-metalúrgico na Presidência da República.

Como já afirmamos em matérias anteriores, é excesso de covardia e irresponsabilidade afirmar que os três indiciados são culpados pelo acidente, que deveria ser creditado ao governo federal, em cuja estrutura consta a Infraero, a quem cabe todas as questões da infraestrutura aeroportuária. Não é preciso qualquer dose extra de raciocínio para compreender que a pista de qualquer aeroporto faz parte da infraestrutura.

O avião da TAM, que se chocou com o prédio onde funcionava o setor de cargas da companhia aérea, escorregou na pista como qualquer outra aeronave que pousava em Congonhas sob chuva. De acordo com experimentados pilotos comerciais, em Congonhas, sob chuva, aviões escorregam mais ou menos no momento do pouso, mas escorregam. Esse detalhe em uma pista que perdeu aproximadamente 130 metros por causa de um bordel vertical erguido ilegalmente à beira do aeroporto transforma qualquer aterrissagem em uma roleta russa com asas.

A ex-diretora da Anac, Denise Abreu, foi injustamente acusada de liberar a pista do Aeroporto de Congonhas, decisão que sempre coube à Infraero. À época do acidente, a pista passava por reforma, obra executada por empreiteira contratada pela Infraero. Muito estranhamente, na ocasião não se cogitou a possibilidade de averiguar as bases do contrato e eventual superfaturamento da obra. Com ranhuras em profundidade insuficiente para evitar a formação de lâmina d’água, a pista de Congonhas tornou-se escorregadia. Tanto é assim, que dias antes outro avião derrapou na pista e por pouco (um metro) não despencou sobre a movimentada avenida que margeia o aeroporto paulistano.

Se a reforma da pista estava incompleta, a Infraero não deveria ter liberado a mesma para pousos e decolagens. De tal modo, são inocentes Marco Aurélio dos Santos de Miranda e Alberto Fajerman, acusados de imprudência por não terem transferido o pouso para outro aeroporto.

O jornalismo é uma atividade comercial como qualquer outra, mas o viés social da profissão exige muita responsabilidade na apuração dos fatos, pois mesmo que a Justiça venha a absolver os acusados, o escândalo midiático condenou por antecipação os denunciados. Tragédias exigem respostas, por isso a opinião pública sempre tratará os três como culpados. Resumindo, é preciso coragem por parte do jornalista ou do órgão de imprensa para defender aquele que contra si tem o dedo covarde da condenação de encomenda. E, saibam os leitores mais novatos, que coragem e responsabilidade sobram no almoxarifado do ucho.info.

Em suma, o que mais se ouve por parte dos familiares das vítimas é que justiça deve ser feita o quanto antes, mas a continuar o processo atual há o risco de se cometer uma enorme injustiça.

Sobre as indenizações e os equívocos dos familiares

Por diversas vezes explicamos a forma que se dá uma indenização em caso de acidente, como o do Airbus da TAM, mas novamente desceremos aos detalhes. Ao contrário do ser humano, uma empresa seguradora não tem alma e muito menos sofre por motivos dos mais variados. Esse comportamento é inerente a qualquer negócio, pois do contrário a bancarrota é o capítulo seguinte.

A indenização ao familiar da vítima segue uma sequência lógica. Primeiro apura-se a idade da vítima. Subtrai-se esse número da expectativa de vida, que de acordo com a Justiça brasileira é de 74 anos. Esse delta de tempo (expectativa de vida – idade da vítima) servirá com ponto seguinte do cálculo da indenização. É nessa etapa que surge a polêmica maior entre a família da vítima e a seguradora. A indenização é calculada através da multiplicação do último valor declarado pela vítima no Imposto de Renda pelo tempo de vida restante. Do total desconta-se aproximadamente um terço, valor que corresponde ao imposto sobre rendimento que a vítima pagaria caso estivesse viva.

O editor do ucho.info acompanhou nos bastidores do pós-acidente essas tratativas, muitas das quais emperraram porque os familiares se recusaram a apresentar a última declaração do Imposto de Renda da vítima. Muitas dessas recusas foram justificadas com a tese da quebra do sigilo fiscal. O representante da seguradora, responsável pelo processo de indenização, não busca a violação do sigilo fiscal da vítima, bastando à família apresentar um documento que comprove o rendimento.

Não se trata de querer precificar a vida de uma pessoa, que nenhuma fortuna é capaz de compensar, mas é preciso compreender que esse processo de indenização tende a seguir o caminho da lógica. O que se viu novamente nas reportagens exibidas nesta quarta-feira (17) foram reclamações acerca dos valores das indenizações. O raciocínio é simples, mesmo que para muitos pareça frio. Quem era acostumado às sonegações deixou a família em má situação.

Por certo surgirão pessoas acusando-nos de excesso de frieza ao tratar do assunto, mas o jornalismo deve se limitar aos fatos, algo que o sensacionalismo que embala alguns veículos de comunicação impediu que acontecesse. Fora isso, o editor do ucho.info teve postura idêntica ao tratar da indenização referente à morte do seu pai, que despediu-se da vida em um acidente aéreo de encomenda.