Useiros e vezeiros – O vídeo em que o deputado federal Aelton Freitas (PR-MG) aparece ensinando como comprar votos em eleições deve ser interpretado além do crime previsto na legislação eleitoral. O parlamentar mineiro, que na condição de suplente assumiu vaga no Senado em substituição a José Alencar (renunciou ao cargo para assumir a vice-presidência da República em 2003), mostra que os custos de uma campanha são superiores aos valores informados à Justiça Eleitoral.
Há pelo menos dez anos o ucho.info alerta para esse detalhe que a Justiça Eleitoral prefere fingir que não vê. O custo de uma campanha eleitoral de um candidato a deputado federal por um estado do Nordeste, por exemplo, gira em torno de R$ 50 por voto. Informação confirmada por um político que manda e desmanda em um dos partidos da chamada base aliada. Nesse custo por voto estão inclusos também os gastos com a compra de votos, que pode acontecer direta ou indiretamente.
Tomando como exemplo um candidato que se elege à Câmara dos Deputados com 150 mil votos, a campanha terá custado R$ 7,5 milhões. O ucho.info tem insistido que a corrupção torna-se inevitável quando um candidato investe tal valor em três meses de campanha, ao passo que ao longo de quatro anos de mandato receberá aproximadamente R$ 1,5 milhão como remuneração salarial, em valore brutos.
Que não se iluda o brasileiro que a prática criminosa exibida no vídeo acontece apenas em cidades pequenas do País. Nas cidades grandes e nas metrópoles, a compra de votos se dá através intermediários, normalmente líderes comunitários. Quem conhece minimamente os bastidores de uma campanha eleitoral sabe que nossa afirmação é verdadeira. A extensa maioria dos políticos brasileiros adota essa prática, cuja responsabilidade pela negociação recai sobre os prepostos do candidato.
Independentemente do costume equivocado da classe política brasileira, Aelton Freitas incorreu em crime eleitoral e deve ser rigorosamente julgado e punido à sombra do que determina a legislação vigente, sob pena de esse tipo de prática continuar garantindo a eleição de adeptos do desmando e da impunidade.
Fofoca, uma prática de campanha
No vídeo em que ensina a políticos de Capetinga, município do interior mineiro, a comprar votos, o deputado federal fala sobre a estratégia de desmoralizar o adversário a partir da convocação do que o parlamentar classificou como “esquadrão da fofoca”, a quem compete a responsabilidade de disseminar inverdades sobre determinado candidato.
Os jornalistas que cobrem o cotidiano da política nacional sabem que esse tipo de expediente é comum, por isso pode-se considerar exagerado e mentiroso o viés de indignação dado à reportagem da Vênus Platinada.
Na eleição presidencial de 2006, quando o então presidente Luiz Inácio da Silva disputava um novo mandato, a campanha do petista disparou a informação inverídica de que o PSDB, se retornasse ao Palácio do Planalto, privatizaria a Petrobras. Naquele momento, nenhum órgão da chamada grande imprensa questionou o boato ou cobrou do núcleo duro da campanha de Lula alguma explicação sobre o boato. Possivelmente porque esses veículos de comunicação frequentavam o caixa palaciano com assiduidade.
Ao longo dos anos, essa estratégia rasteira e criminosa de derrubar o adversário ganhou espaço nas campanhas eleitorais, sendo que há especialistas no assunto. Em São Paulo, um publicitário nascido no interior de Minas Gerais se gaba de ser frequentemente chamado para cuidar do serviço sujo das campanhas de determinados partidos. Mas sua expertise não se limita a esse tipo de atuação. O “globetrotter” da mentira há alguns anos se dedica a assessorar o mensaleiro Delúbio Soares de Castro, condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federa no julgamento da Ação Penal 470.
O mentiroso de aluguel, conhecido por seus destemperos comportamentais, só recua quando alguma verdade acerca da sua intimidade corre o risco de vir à tona. Quem conhece os bastidores desse submundo sabe como deter o proxeneta da mitomania.