Dilma percebeu que caso da suposta espionagem dos EUA não renderá mais e tenta saída honrosa

Pane seca – A carona que a presidente Dilma Rousseff vinha pegando nas denúncias de Edward Snowden, de que a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) teria espionado e-mails e telefonemas de integrantes do governo brasileiros, acabou antes do previsto. Isso porque o Palácio do Planalto foi pego de surpresa por reportagem publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, na última segunda-feira (4), que afirma que a Agência Brasileira de Inteligência espionou diplomatas estrangeiros de países como Rússia, Iraque e Irã.

Palacianos se apressaram em afirmar que a espionagem brasileira é diferente da praticada pela NSA, mas não há como negar o óbvio, mesmo com palavras como contraespionagem, contrainteligência ou contrainformação, que no final das contas é espionagem da mesma forma.

Nesta quarta-feira (6), a presidente Dilma disse, durante entrevista ao grupo de comunicação RBS, que um pedido de desculpas por parte do governo norte-americano seria suficiente para que ela remarcasse sua visita a Washington. “Eu iria viajar. A discussão que derivou dessas denúncias nos levou à seguinte proposta para os Estados Unidos: só tem um jeito de a gente resolver esse problema. Se desculpar pelo que aconteceu e dizer que não vai acontecer mais. Não foi possível chegar a esse termo”, afirmou a presidente.

Para colocar água fria na fervura que se formou entre Brasília e Washington, Dilma disse que ela e Obama poderiam ser vítimas de constrangimento, pois ninguém sabe que tipo de informação Edward Snowden tem nas mãos. “Se eu botasse o pé nos Estados Unidos, na hora em que eu estivesse lá, o que podia acontecer? Porque também ninguém sabe o que tem o Snowden. Acho que nem os EUA sabem o que ele levou. Então eu e o presidente Obama estaríamos submetidos ao constrangimento de uma nova denúncia. O tema que vocês pautariam não seriam as nossas realizações, seriam justamente essas denúncias”, afirmou.

Imaginar que o governo dos Estados Unidos deixará de espionar é o mesmo que acreditar em Papai Noel ou cegonha. A NSA tem um sistema de captura e armazenamento de todas as mensagens que circulam diariamente na rede mundial de computadores e não será por uma imposição do governo brasileiro que esse procedimento será suspenso. A espionagem tornou-se algo tão comum nos EUA que já é considerado um assunto de governo, que age dessa maneira como forma de garantir a segurança do país e dos seus cidadãos, o que nem sempre acontece.

Na mesma toada discursiva de seus assessores, a presidente disse ser a espionagem realizada pela Abin diferente da deflagrada pela norte-americana NSA. No caso brasileiro, a Abin espionou diplomatas estrangeiros, o que significa violar a privacidade desses servidores a soberania dos respectivos países. É importante destacar que em qualquer parte do planeta uma representação diplomática é considerada território estrangeiro.

Em relação aos Estados Unidos, a espionagem às autoridades brasileiras, apesar de ser inexplicável, tem uma razão de ser. O Brasil é o mais importante país da América do Sul e a política internacional do governo do PT preocupa não apenas a Casa Branca, mas outros governantes ao redor do planeta. A relação de proximidade de Lula e Dilma com conhecidos inimigos dos EUA, como Fidel Castro, Mahmoud Ahmadinejad e o finado Hugo Chávez, é a razão primeira para a bisbilhotice ianque. Fora isso, o Palácio do Planalto defende sem cerimônia o presidente da Bolívia, Evo Morales, que tornou-se um refém dos traficantes e produtores de cocaína do país vizinho.

Como se não bastasse, quem conhece os mais fechados bastidores do poder sabe que o governo brasileiro incentiva o Irã em seu projeto de desenvolvimento de armas nucleares, apesar o assunto ser negado diante de câmeras e microfones. Nos subterrâneos de Brasília não é difícil conseguir informações sobre a estreita relação entre autoridades iranianas e servidores brasileiros que trabalham no setor de energia nuclear.

A espionagem entre nações fere a soberania de cada país, mas é preciso reconhecer que isso acontece com frequência diária e sob os auspícios de muitos governantes que no momento mostram-se indignados com as revelações de Edward Snowden. Todo esse cenário de desconfiança global e recíproca não justifica as ações de espionagem, mas por certo explica. E a situação fica ainda mais clara com o avanço da esquerdização da América Latina.

Dilma Rousseff fez muita fumaça com as denúncias de Snowden, mas agora sabe que a situação pode se complicar porque o governo brasileiro, a mando do PT, espionou diplomatas russos. E quem dá guarida e monitora o que fala o ex-analista da NSA é ninguém menos que Vladimir Putin, um ex-agente da KGB.

Na esperança de uma saída honrosa – o que seria positivo para o seu projeto de reeleição –, Dilma espera que o presidente Barack Obama faça um mea culpa. Os estrategistas da Casa Branca dificilmente aconselharão Obama a atender ao pedido da mandatária brasileira.