FHC decide romper o silêncio e comemora a criação do Proer, o “Bolsa Família” dos banqueiros

Fio trocado – Há situações que os políticos deveriam evitar, mas não o fazem porque a vaidade é infinitamente maior do que a razão. Ex-presidente da República, o tucano Fernando Henrique Cardoso usou sua conta no Facebook para comemorar os dezoito anos da Medida Provisória que criou o Proer – Programa de Estímulo à Recuperação do Sistema Financeira Nacional.

No texto publicado na rede social, FHC afirma que o Proer foi “fundamental para o processo de estabilização da moeda” e “impediu um possível colapso do sistema bancário”, apesar de “atacado desde o início pelo PT”. É verdade que Fernando Henrique precisa ser reconhecido pelos acertos de seus dois governos, mas socorrer banqueiros é tão absurdo quanto tentar segurar uma quantidade de água na mão.

Banqueiros não levantam da cama para fazer caridades, até porque bancos não são instituições filantrópicas. Aliás, vivem de lucros estratosféricos e cobram caro pelo dinheiro alheio. E como qualquer negócio, banco também tem seus riscos. Ou seja, só entra nisso quem é do ramo e tem dinheiro de sobra para colocar no negócio.

Entre os anos de 1995 e 2000, o governo de FHC despejou perto de R$ 30 bilhões no Proer, mas mesmo assim alguns gigantes do setor financeiro nacional foram a pique: Econômico, Nacional e Bamerindus. Sem contar o Banorte, Mercantil de Pernambuco, Marka e FonteCidam.

Vale lembrar que por muito menos o secular Barings Bank, instituição que financiou importantes ações da coroa britânica, inclusive bélicas, faliu por causa de uma operação com derivativos na filial de Cingapura. E não houve qualquer ação governamental para salvar o banco, em cuja lista de clientes constava a Rainha Elizabeth e outros integrantes da família real.

Fernando Henrique tem outras realizações dos seus governos para comemorar, não a criação do Proer, um escárnio com o dinheiro público que serviu para tentar salvar a ousadia criminosa de alguns banqueiros, que por conta dos delitos cometidos deveriam estar atrás das grades. Não se pode confundir a necessidade de uma operação do Estado para evitar consequências desastrosas na economia com passar a Mao na cabeça de banqueiros aproveitadores. De tal modo, FHC não pode transformar um absurdo descomunal no maior de todos os feitos. Em suma, o ex-presidente perdeu a preciosa oportunidade de permanecer em silêncio.

Confira abaixo a íntegra da mensagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso

“Há 18 anos, através da MP 1179 (03/11/1995) o presidente FHC criava o PROER, Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional. Fundamental para o processo de estabilização da moeda, o PROER impediu um possível colapso do sistema bancário, o que afetaria a poupança dos brasileiros e desencadearia grave crise econômica. Atacado desde o início pelo PT, o PROER recebeu posteriormente elogios do presidente Lula e de seu presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, por ajudar a conter a crise mundial de 2008. Sem o PROER a economia do Brasil teria sucumbido naquele momento.

O Proer fez parte de um amplo programa de reestruturação do setor financeiro, incluindo uma profunda mudança regulatória, com a criação do mecanismo do seguro de depósitos, entre outros, inexistentes até então. A privatização de Bancos estaduais e novas legislações consolidaram um moderno sistema financeiro no Brasil, ampliando o caráter fiscalizatório do BC.

Entre 1995 e 2000 foram destinados, em títulos de longo prazo, cerca de R$ 30 bilhões aos bancos brasileiros, aproximadamente 2,5% do PIB. Tal custo público se situa bem abaixo do verificado no Chile, por exemplo, onde a crise financeira em 1985 levou 19,6% do PIB; na Argentina, em 1982, o valor atingiu 13% do PIB. Nos EUA, a crise financeira de 1991 custou ao Tesouro 5,3% do PIB.”