Quem dá mais – O leilão dos aeroportos do Galeão, no Rio, e Confins, na Grande Belo Horizonte, promete ser acirrado na sexta-feira (22) na Bolsa de Valores de São Paulo, a partir das 10 horas. Especialistas calculam que o ágio nesta segunda rodada será maior que os cerca de 350% sobre os preços mínimos estabelecidos para as concessões dos terminais de Guarulhos, Brasília e Viracopos, leiloados no início do ano passado, na chamada primeira rodada.
Para muitos analistas e até mesmo para o governo federal, foi uma surpresa o fato de grandes operadoras europeias e americanas terem saído dos leilões da primeira rodada de mãos abanando. Dessa forma, o governo aumentou a exigência de experiência das empresas operadoras de aeroportos para participar do leilão – que era de 5 milhões de passageiros por ano para a disputa de Guarulhos, Brasília e Viracopos, para 22 milhões para os interessados no Galeão e 12 milhões no caso de Confins.
“O leilão de Galeão e de Confins vai ser mais disputado do que o dos aeroportos da primeira rodada”, disse Richard Lucht, especialista em transporte aéreo e diretor-geral da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Sul. “As condições dos leilões foram revistas para gerar mais competitividade. Na realidade, existe interesse do governo de que empresas de maior porte assumam a operação desses aeroportos. Mas, para isso, elas vão ter que estar dispostas a ‘abrir a mão’.”
Outra mudança importante – e que fará com que a disputa fique mais acirrada – foi a liberação, pelo governo, da participação dos vencedores das concessões de Guarulhos, Viracopos e Brasília nesta segunda rodada. Mas, para que isso seja possível, elas poderão deter no máximo 14,99% do consórcio, sem participação direta no controle do grupo societário.
“Caso as atuais concessionárias privadas participem da segunda rodada, há a possibilidade de haver um ágio maior”, afirmou Jorge Leal Medeiros, professor de transporte aéreo e aeroportos da Escola Politécnica da USP. “Pessoalmente, acho importante que as atuais não participassem, para que fosse estimulada uma concorrência maior entre os aeroportos, que assim ficariam em mãos de empresas diferentes.”
O principal alvo dos grupos no leilão será o aeroporto de Galeão, que recebe anualmente 17,5 milhões de passageiros por ano. “Deverá haver um menor interesse pelo aeroporto de Confins por sua menor demanda [10,4 milhões por ano, segundo a Infraero], associada a uma região de menor interesse”, afirma Medeiros.
Disputa acirrada
Richard Lucht, da ESPM, explica que o alto ágio vai ocorrer pelo fato de que as grandes operadoras de aeroportos vão estar dispostas a pagar pelo potencial de crescimento do mercado brasileiro de aviação, que “está longe de atingir a sua saturação”, já que, com melhor infraestrutura, empresas aéreas poderão disponibilizar mais voos. “Esse ágio é um prêmio que as empresas pagam para entrar num mercado em expansão.”
Segundo informações do mercado, sete grandes operadores internacionais constituídos em cinco consórcios entregaram nesta segunda-feira propostas para participar do pregão – sendo que na primeira rodada concorreram 12 consórcios, entre grandes, médios e pequenos aeroportos mundiais.
Porém, agora, a briga envolve pesos-pesados que operam os maiores aeroportos do mundo: Changi Airport Group (Cingapura); Fraport AG (Frankfurt); ADP Airports (Paris) e Schiphol (Amsterdam); Ferrovial (grupo espanhol que controla o aeroporto de Heathrow, em Londres); e ainda um grupo formado por Flughafen Zürich AG (Zurique) e Flughafen München (Munique).
Essas empresas entram na disputa em parceria com grandes empreiteiras nacionais. O lance mínimo para levar a concessão do terminal de Galeão é de 4,828 bilhões de reais. Já o de Confins, 1,096 bilhão de reais. Todos os consórcios deverão competir por Galeão e três deles por Confins. O leilão dos dois terminais vai ocorrer de forma simultânea, sendo que um consórcio não poderá arrematar os dois aeroportos.
Investimentos bilionários
Os consórcios que arrematarem os terminais de Galeão e Confins deverão investir durante a concessão – de 25 anos e 30 anos, respectivamente – mais de 9 bilhões de reais. Estima-se que o vencedor do leilão do aeroporto carioca tenha que investir cerca de 5,7 bilhões de reais para a construção, por exemplo, de 26 pontes de embarque, estacionamento e ampliação do pátio das aeronaves.
Já para o aeroporto da capital mineira, a previsão de investimentos gira em torno de 3,5 bilhões de reais para a construção, por exemplo, de um novo terminal de passageiros com no mínimo 14 pontes de embarque, estacionamento de veículos e de uma segunda pista independente até 2020.
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a projeção de demanda para o Galeão é de 60 milhões de passageiros por ano em 2038, quando termina a concessão. Já o aeroporto mineiro tem demanda de 10,4 milhões de passageiros por ano e é o quinto mais movimentado do país.
“Galeão tem uma infraestrutura pronta, que não está limitada em capacidade. O terminal precisa de um banho de loja, falta investimento para tornar o aeroporto mais atrativo. Não é necessário construir nem pista nem terminal”, diz Medeiros, da USP. “Já os vencedores de Confins deverão fazer uma nova pista em pouco tempo. E uma segunda pista é caro, de fato.”
R$ 24,5 bilhões na primeira rodada
O governo federal arrecadou 24,5 bilhões de reais com o leilão das concessões de Guarulhos, Viracopos e Brasília realizado no início de fevereiro de 2012 na Bovespa, o que correspondeu a um ágio médio de 348% acima do preço mínimo das concessões, que custavam no total 5,5 bilhões de reais.
A concessão do aeroporto de Guarulhos, que tem prazo de 20 anos, foi arrematada por 16,2 bilhões de reais (ágio de 373,51%) pelo consórcio Invepar, tendo como operadora a ACSA (Airports Company South Africa), da África do Sul. Ela opera aeroportos em seu país de origem e na Índia.
Já o consórcio Aeroportos Brasil – tendo como operadora a francesa Egis Airport Operation – comprou a concessão de Viracopos por 20 anos pelo valor de 3,8 bilhões de reais e pagou ágio de 159,75%. A empresa opera terminais na França, Burkina Fasso e Algéria.
O aeroporto de Brasília foi arrematado por 4,5 bilhões de reais (ágio de 673,39%) pelo consórcio Inframerica Aeroportos, formado pela operadora argentina Corporácion América S.A., que poderá gerenciá-lo por 25 anos. A empresa opera aeroportos em seu país natal e no Equador, Peru, Itália e Armênia. (DW)