Problemas conhecidos – O governo continua empurrando para a vala do esquecimento o escândalo do registro da saída de Henrique Pizzolato pelo Aeroporto de Guarulhos, que apareceu na base de dados da Polícia Federal, conforme mostrou o ucho.info com exclusividade, mas o episódio serviu para trazer à tona as agruras enfrentadas pela PF. Pizzolato foi condenado à prisão na Ação Penal 470 (Mensalão do PT), mas decidiu fugir supostamente para a Europa e escapar do cumprimento da pena.
Dando continuidade à reportagem de segunda-feira (25), o site traz novas informações sobre o abandono que enfrenta a Polícia Federal no Aeroporto Internacional Governador André Franco Montoro, na Grande São Paulo, o maior e mais importante do País. Faltando poucos meses para a Copa do Mundo, quando o Brasil receberá milhares de turistas vindos das mais distintas partes do planeta, os policiais federais, em Guarulhos, só usam cães farejadores no combate ao tráfico internacional de drogas com autorização prévia de autoridade superior.
Recentemente, agentes da PF elaboraram, por conta própria, um estudo sobre as vulnerabilidades e os chamados “buracos” na segurança aeroportuária, trabalho que levou em consideração, inclusive, os riscos de atentados terroristas, a ação de coiotes (traficantes de pessoas) e as chamadas “mulas” (pessoas que transporta drogas). O trabalho foi recebido e muito elogiado, mas desde então nada foi feito para mudar a realidade no Aeroporto de Guarulhos.
Quando ocorre a apreensão de droga, na extensa maioria das vezes é cocaína, a mesma é aberta, pesada, periciada e lacrada diante dos traficantes, em uma sala sem ventilação ou exaustão. Como apenas os peritos federais possuem máscaras, as “mulas” acabam cheirando a cocaína que fica suspensa no ar. Trata-se de procedimento no mínimo inadequado.
Outro problema grave é a cessão do “body scan” (sistema que radiografa o passageiro) à Receita Federal. Desde então, muitas checagens de traficantes deixaram de ser feitas de acordo com as normas, o que faz com que muitos dos presos cheguem aos presídios com drogas no corpo. O material acaba sendo distribuído e consumido dentro do próprio presídio, sem que se saiba a origem do mesmo.
Uma decisão superior tem impedido um grupo de agentes federais especializados de abordar e entrevistar passageiros antes que esses cheguem aos guichês da imigração. Ou seja, os agentes foram obrigados a diminuir o número de abordagens a passageiros com características de “mula”, como forma de evitar problemas diplomáticos, em especial com países africanos.
Para finalizar, a PF no Aeroporto de Guarulhos tem à disposição dos policiais armas de fogo potentes, como fuzis e submetralhadoras, mas não disponibiliza pistolas Taser, que imobiliza a pessoa por eletrochoque. Há uma portaria interministerial que determina que o policial deve ter à disposição pelo dois armamentos não letais, mas isso não ocorre em Guarulhos, onde são frequentes os embates entre policiais e viajantes suspeitos. Não faz muito tempo, um agente decidiu se aposentar após ser agredido por passageiro nigeriano considerado suspeito.
A grande questão é que esse cenário de descaso não é uma exclusividade da PF que opera no Aeroporto de Guarulhos. Situações semelhantes devem ocorrer em outros aeroportos do País, sem que as autoridades tomem as devidas providências.
Mesmo que na opinião de muitos seu prazo de validade vencido, a pergunta que não quer calar – “E quando chegar a Copa?” – cai como luva diante do calvário enfrentado pela Polícia Federal, que por sua história de relevantes serviços prestados ao Brasil e aos brasileiros merece mais atenção por parte do governo. Ou será que os palacianos continuam acreditando que a PF é uma polícia de governo, não de Estado?