Pau mandado – Qualquer denúncia de corrupção, se procedente, deve ser investigada sob o manto da legalidade, sem que qualquer autoridade ou partido político se beneficie do processo investigatório ou dos seus resultados. O cenário político nacional do momento está marcado pela disputa que surgiu a partir dos imbróglios envolvendo a Siemens e a Alstom, acusadas de integrar cartel para fornecimento de material metroferroviário ao governo de São Paulo.
Abusando da ironia, o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo tem atuado como humorista ao tratar do assunto. Cardozo é acusado pelo PSDB de desrespeitar a legislação vigente ao não entregar ao Ministério Público Federal os documentos relativos a suposta denúncia de pagamento de propina a integrantes do governo paulista, em sua maioria do PSDB. A tradução do documento é tão pífia e matreira que qualquer inocente seria capaz de identificar a fraude, que trouxe palavras inexistentes no documento original e, além disso, continha nomes de políticos adversários do PT, que não constavam do mesmo.
José Eduardo Cardozo entregou o caso à Polícia Federal, depois de receber documentos do “companheiro” Simão Pedro, deputado estadual licenciado e secretário do prefeito Fernando Haddad, de São Paulo. Pedro foi chefe de Vinícius Carvalho, atual presidente do Cade, que iniciou a investigação do suposto cartel formado em São Paulo.
Gazeteiro conhecido e sempre se valendo da oratória, Cardozo cometeu um erro gravíssimo, que em qualquer país democrático e com governantes minimamente responsáveis já teria culminado com sua demissão. O ministro agora tenta inverter o jogo sórdido que seu partido iniciou e tem afirmado que o PSD e o PPS o querem transformar em réu. José Eduardo pode dizer o que bem quiser, mas nem sempre suas declarações devem ser levadas a sério. Quem acompanhou o trabalho de Cardozo na CPI dos Correios, em 2005, sabe a forma como o ministro interpreta documentos de acordo com a necessidade do seu partido.
Nesta quinta-feira (28), durante evento do Prêmio Innovare, na sede do STF, Cardozo disse que o Ministério da Justiça não se deixará intimidar diante das acusações feitas pela cúpula do PSDB. O ministro classificou de “lamentável” o ataque tucano, mas é preciso lembrar que o petista mudou de postura depois que a tropa de choque do Palácio do Planalto impediu a no Congresso a sua convocação para prestar esclarecimentos.
“Acho lamentável que queiram transformar quem cumpre a lei em réu apenas pelo fato de que existe uma investigação. A maior parte dos países em que houve esse escândalo já investigou, já puniu pessoas envolvidas. O Brasil ainda caminha lentamente. Pedi à Polícia Federal que apurasse, recebi uma denuncia e pedi que avaliasse, nada mais do que isso. Há pessoas que parece que não querem investigar, que querem descontar as coisas”, disse Cardozo, como se o PT não fosse o partido responsável pelo período mais corrupto da história brasileira. Querer posar de incente a essa altura dos acontecimentos é no mínimo excesso de ousadia.
Como mencionamos acima, qualquer denúncia de corrupção deve ser investigada, o que deve valer em qualquer situação, não importando a bandeira política dos acusados. Se há de fato provas de que existiu pagamento de propina em São Paulo, que o caso seja apurado e os responsáveis sejam punidos, sem privilégios de qualquer natureza.
Considerando que José Eduardo Cardozo vive um momento moralista e de retidão impar, que a mesma Polícia Federal abra investigação para apurar o relacionamento nada ortodoxo da Siemens e da Alstom com a Usina Hidrelétrica de Itaipu, o que não acontece porque o castelo de areia do PT desmoronaria em questão de dias. A PF deve investigar também o superfaturamento do Metrô de Salvador, assunto que tem sido abafado porque o governo da Bahia está sob a batuta do “companheiro” Jaques Wagner. Apenas para lembrar, a empresa responsável pelo Metrô de Salvador é a mesma Siemens que o ministro petista da Justiça acusa no caso de São Paulo.
José Eduardo Cardozo não pode balbuciar moralismos de encomenda apenas para ajudar o mais novo poste inventado por Lula, o ministro Alexandre Padilha (Saúde), pois debaixo do tapete tem poeira de sobra para ser varrido e criar uma nuvem considerável. Basta que alguém decida contar o que sabe. O que o PT busca com essa estratégia pouco inteligente é tentar desviar o foco do escândalo em que se transformou a prisão dos mensaleiros José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que querem ser tratados como celebridades em um SPA à beira do Mar Egeu.