(*) Regina Helena Paiva Ramos –
Fui comprar um livro do Laurentino Gomes que ainda não tinha e procurei por toda a livraria. Era a Saraiva do Shopping Morumbi, onde compro sempre. Gosto de lá, fica perto de casa, tem cadeiras onde a gente pode se refestelar para dar uma espiada nos livros. O que vou falar serve para todas as livrarias, não apenas para a Saraiva.
Nas gôndolas logo na entrada, onde os livros podem ser mais vistos, só sobrenomes estrangeiros: Gailbraith, Green, Jones, Riordan, Moore, Collins, Brown, James, Rowling, Fielding, Sibley, Martin and so one.
Sempre que entro numa livraria penso no que os donos das ditas cujas e seus gerentes têm contra o autor brasileiro. Autor brasileiro exposto nas gôndolas principais, aquelas com as quais o comprador se depara logo que entra, quase nunca! Só Paulo Coelho e, às vezes, Fernando Henrique Cardoso. Pelo amor de Deus, não pensem que estou colocando os dois no mesmo patamar, arre égua que isso nunca!
Mas cadê Leminski, Clarice Lispector, Aluísio de Azevedo, meu prediletíssimo João Ubaldo Ribeiro, Carlos Drummond e Manoel Bandeira, Mário de Andrade – ídolo meu! – Deonísio da Silva, Graciliano Ramos, Machado de Assis, Marta Medeiros, Lygia Fagundes Teles, Silvio Fiorani (que acaba de publicar um livro importante), José de Alencar, cadê Guimarães Rosa e tantos outros? Laurentino Gomes? Depois de muito procurar perguntei pelo livro a um vendedor que me levou para trás de uma coluna nos fundos da livraria e lá estava Laurentino com todos os seus livros empilhadinhos atrás da coluna. Acho que meio tristinhos…
Perguntei a um vendedor onde estava “De onde vem as palavras” do Deonísio da Silva, edição recém-saída do forno. Verificou no computador. Não tinham. “Mas saiu há mais ou menos quinze dias…” me queixei. “Ainda não temos,” repetiu.
Pergunta: isso é justo? Que é que os autores nacionais fizeram aos donos de livrarias para ser tratados assim? Aos estrangeiros, o destaque. Aos nacionais, as prateleiras por ordem alfabética. Ou o chão atrás de uma coluna. Isso quando são encontrados. Grande parte fica nas editoras mesmo, só dão o ar da sua graça quando alguém pede e aí – só aí! – as livrarias encomendam, “vai chegar entre cinco e sete dias”, avisam, e então o comprador que quer dar um livro de presente se inclina por outro, daqueles expostos.
Autor brasileiro não vende? Se a livraria tem os livros e se não estão em lugar difícil de achar, vende, sim. Claro que vende! Só não vende quando a livraria não os tem.
A Imprensa Oficial, quando Hubert Alqueres era seu presidente, publicou um livro meu, “Mulheres Jornalistas, a Grande Invasão” de maneira primorosa, capa linda, impressão cuidadíssima. Só que tem pontos de venda em museus, não o envia às livrarias. Como minha amiga, a jornalista Maria Aparecida Saad, trabalhava na Saraiva do Shopping Higienópolis, ela mesma pediu os livros, colocou-os bem à vista e vendeu todos os que pediu.
Livro nacional vende, sim. Principalmente se os donos de livrarias derem uma ajudinha. Só que não dão. Por que? Não sei se gostaria muito que me explicassem. Parecem aliados dos jornais, que tratam o autor brasileiro como se não existisse, como escreveu outro dia Deonísio Silva.
Existem no país incentivos para um monte de coisas, até para comprar carro (não é mesmo, presidenta? Vosmecê deu os incentivos, sim, seus companheiros de partido, o prefeito de São Paulo e o secretário de Transportes, por sobrenome Tatto, mas sem nenhum tato, é que não gostam de quem tem carro). Como ia dizendo, o governo incentiva um monte de coisas, entre as quais o cinema nacional: as salas de exibição, por lei, têm uma cota de filmes nacionais para exibir. Por lei! Então, por que não se faz uma lei pela qual as livrarias também sejam obrigadas a colocar em local de destaque – como fazem com os livros estrangeiros – pelo menos uma porcentagem dos primos pobres, que são os livros nacionais?
Muito difícil, isso?
Estive num almoço pela candidatura de Geraldo Alckmin a governador e na hora de sugerir coisas para o programa dei essa ideia. Deve ter entrado por um ouvido e saído pelo outro, como dizia minha avó quando nos contava histórias. Terminava sempre assim: “Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra.”
Já está mais do que na hora de o governo federal e/ou os dos Estados começarem a pensar em algo assim. Ler é importante. O livro conta histórias. Histórias que informam, distraem, fazem pensar, mudam a cabeça das pessoas. Podem até mudar o mundo. Os senhores políticos – excelências em quem votamos – precisam começar a pensar com seriedade em aumentar o número de leitores, em fazer algo de efetivo em benefício do livro. O autor nacional agradeceria. Pena que as livrarias não se interessem, voluntariamente, em prestigiar o autor nacional. Quem sabe farão alguma coisa se forem obrigadas?
Que isso não fique só nos contos da carochinha, entrou por uma porta, saiu por outra, quem quiser que conte outra…
(*) Regina Helena Paiva Ramos é uma das jornalistas pioneiras do País. Entre outros, escreveu “Mulheres Jornalistas, a Grande Invasão”