(*) Carlos Brickmann –
O repórter Fausto Macedo, de “O Estado de S. Paulo”, profundo conhecedor da área, informa que o Ministério Público paulista estuda propor acordo às empresas suspeitas de participar do cartel do Metrô e de trens de passageiros, nos Governos tucanos de Mário Covas, Alckmin e Serra. A ideia é que as empresas se comprometam a devolver ao Tesouro o dinheiro extra que receberam; em troca, o Ministério Público não entraria contra elas com ações judiciais de dissolução.
1 – Se houve desvio de dinheiro público, a simples devolução não elimina o crime. Se um ladrão é apanhado e devolve o que roubou, continua sendo ladrão.
2 – Não há no mundo muitas empresas no ramo de trens de passageiros e material ferroviário. Dissolvê-las? E quem vai fazer o serviço no lugar delas?
3 – O Brasil vai dissolver as gigantescas multinacionais? Então, tá.
Que tal incluir no tal acordo o nome de quem quer que tenha recebido propina, junto com pistas que permitam comprovar eventual suborno? Que tal investigar se essas manobras, que envolvem cartel, propinas, etc., poderiam ser realizadas exclusivamente por subordinados, sem que as autoridades maiores de nada soubessem?
Mais: terá havido omissão do Tribunal de Contas? Se houve subterfúgios para que o Tribunal de Contas fosse contornado, como é que isso foi feito? Por quem? E Secretarias como a da Justiça, por exemplo, e outros órgãos de controle do Governo, não analisam contratos, não verificam se está tudo legal, se pode ser feito? Que tal obter essas informações no acordo com as empresas?
Questão de imagem
O governador Geraldo Alckmin tem uma saída infalível para livrar-se de quaisquer suspeitas de abafamento do caso, que seus adversários já tentam lançar-lhe, ainda mais neste ano eleitoral: nomear uma comissão independente para comandar as investigações, com pessoas de alta reputação, pertençam a que partido pertencerem. Personalidades como, por exemplo, Hélio Bicudo, Cláudio Lembo, Gilberto de Mello Kujawski, Dráusio Barreto, Ives Gandra Martins, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, desembargador Pedro Gagliardi, não obrigatoriamente estes, mas gente do mesmo naipe, dariam às conclusões da investigação total credibilidade; e trariam a vantagem de afastar qualquer suspeita de exploração política de um caso triste e que parece muito ter custado ao Tesouro paulista.
Trinta anos se passaram
Na segunda, um encontro multipartidário em Curitiba, local do primeiro grande comício, marcou os 30 anos da campanha das Diretas Já – um passo decisivo no enfraquecimento da ditadura militar. No sábado, em São Paulo, é a festa dos 30 anos do primeiro comício pelas diretas a parar uma cidade inteira, com 300 mil pessoas nas ruas. No encontro de Curitiba, dirigentes do PSDB, PMDB, PV, PPS e PSD relembraram os bons tempos em que estavam juntos no palanque, ao lado de Lula e Brizola.
Quem apareceu para a festa foi Vittorio Sorotiuk, representante do PT na comissão que organizou o comício das diretas. Mas deixou claro que estava ali em nome do PT dos velhos tempos, não da direção atual do partido. “Vim em nome dos fundadores do partido e não dos afundadores”.
Aloizio 1, Aloizio 2
Aloizio Mercadante, ministro preferido da presidente Dilma Rousseff, troca a Educação pela Casa Civil, como principal articulador político do Governo. Vai dar certo? Depende: há dois Aloizios Mercadantes, e conforme o que assumir dará certo ou não. Um Mercadante é afável, de boa conversa, confiável; se juntar a essas qualidades o prestígio que tem com Dilma, vai dar certo.
O outro Aloizio é mais conhecido dos políticos: quando vê microfone faz cara de bravo, grita, é ríspido. No Congresso, é acusado de maltratar parlamentares, deixando até de cumprimentá-los. Se for este o Aloizio que assumir, não há risco de dar certo.
Comendo melado…
Tancredo Neves contava que, quando era candidato da oposição ao Governo mineiro, visitou um amigo dos velhos tempos, dono de respeitável curral eleitoral. Café pra cá, pão de queijo pra lá, o amigo lhe disse: “Não vou votar no senhor, dr. Tancredo”. Sem se abalar, que isso não é coisa de político mineiro tradicional, Tancredo perguntou o motivo. “Porque o sr. é oposição, doutor. E oposição chega com uma fome!”
Pois é: o prefeito de Camaçari, Bahia, o petista Ademar Delgado, foi fotografado almoçando com amigos. Seu segurança ficou o tempo todo com o guarda-chuva aberto protegendo o prefeito – contra alguma coisa, não se sabe o que, já que não havia sol nem chuva. Lembrou as fotos do deputado André Vargas, do PT paranaense, caminhando pela pista do aeroporto. Não apenas ia embarcar num avião da FAB, que Excelências não viajam em linha comercial, como tinha um assessor só para carregar o cabide com seu terno.
…e se lambuzando
Maria Conceição da Costa Fonseca, PT, prefeita de Pureza, Rio Grande do Norte, decretou ponto facultativo no município em homenagem a seu aniversário. Prefeitura e Secretarias não funcionaram (não que, fora de ponto facultativo, funcionem muito). Houve café da manhã na casa da prefeita, missa e churrasco no ginásio da cidade.
Não, o ginásio não foi alugado: a Prefeitura o cedeu.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.