(*) Carlos Brickmann –
1 – Alguns milhares de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores sem Terra, MST, ocuparam na quarta-feira a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Ameaçaram invadir o Supremo Tribunal Federal e o Congresso; pouparam, sabe-se lá por que, o Palácio do Planalto. Entraram em confronto com a PM e feriram 30 soldados. Serão processados? Nada disso! Na quinta, a presidente Dilma fez questão de recebê-los em palácio, na companhia, claro, de seu ministro Gilberto Carvalho, e ainda ganhou um presente: uma cestinha de produtos agrícolas.
2 – O jornal “O Estado de S. Paulo” teve acesso à sindicância do Itamaraty para “investigar a conduta” do diplomata Eduardo Sabóia, que libertou o asilado boliviano Roger Pinto Molina, confinado havia 15 meses na nossa Embaixada em La Paz, e o trouxe ao Brasil. As informações da sindicância são tão vergonhosas, tão inacreditáveis, que o Estado as confirmou com quatro fontes diferentes, antes de publicá-las: o Brasil articulou com o presidente boliviano Evo Morales e seus aliados do continente um jeitinho de tirar Roger Pinto da Embaixada e levá-lo num avião venezuelano para Caracas ou Nicarágua. O asilado se comprometeria a aceitar a retirada sem ser informado do local para onde iria. Como não é maluco, recusou a proposta indecente. E logo Chávez morreu, fazendo gorar o plano.
3 – Voltando ao ministro Gilberto Carvalho: em 9 de dezembro último, prometeu processar o delegado Romeu Tuma Jr. pelo livro Assassinato de Reputações. Tuma Jr. prometeu provar as acusações. E até hoje o processo não saiu.
É difícil dar certo – Petrobras
A notícia acaba de ser divulgada pelo Ministério Público holandês: em depoimento oficial, um ex-funcionário da SBM Offshore, locadora de plataformas petrolíferas, disse que a empresa pagou US$ 139 milhões, entre 2005 e 2011, a intermediários e funcionários da Petrobras, para obter encomendas (hoje, segundo o jornal Valor, os contratos somam US$ 23 bilhões). A SBM é investigada não só na Holanda, mas também no Reino Unido e nos EUA, sempre por suborno. No período citado, o presidente da Petrobras era José Sérgio Gabrielli (2005 a 2012). Hoje, Gabrielli é secretário do Planejamento da Bahia, no Governo do petista Jaques Wagner.
A Petrobras informou que não vai comentar o assunto
É difícil dar certo – inexplicável
José Guilherme da Silva, 20 anos, foi preso por assalto em Limeira, SP. Antes de ser colocado no camburão, foi revistado e algemado com as mãos para trás. Entrou desarmado e imobilizado no carro policial, sob as vistas de umas 30 testemunhas. Morreu com um tiro na cabeça, disparado de cima para baixo. Segundo os PMs que o conduziam, o rapaz algemado com as mãos nas costas arrumou em algum lugar um revólver calibre 38 e atirou na própria cabeça. O cano da arma, revelam os exames de balística, estava 50 cm acima de sua cabeça. Segundo o perito, “é sabido nos meios policiais tanto sobre a habilidade de movimento de alguns detidos, bem como sua condição pessoal de burlar a revista”. Só faltou acusarem o detento de ter dado também algumas punhaladas nas próprias costas.
Se era culpado ou não, não importa: estava preso, imobilizado, indefeso. Imagina-se que os PMs que o prenderam saibam revistar uma pessoa. E saibam impedir que um preso algemado com as mãos nas costas consiga mover-se com toda a liberdade. Mas, por incrível que pareça, há ainda algo pior nesta notícia: a morte ocorreu em 14 de setembro de 2013.
Até hoje o inquérito não está pronto.
O caminho das pedras
Identificar e prender os dois acusados do assassínio do repórter Santiago Ilídio Andrade foi rápido: bastou examinar gravações e fotos de ambos quando manipulavam o rojão que atingiu a vítima. Mas abriu-se, agora, um caminho promissor, no sentido de encontrar a raiz da violência e seus articuladores: tanto o advogado dos dois acusados quanto a porta-voz informal de ambos, Elisa Quadros Sanzi, Sininho (ou, como ela se assina, Cininho), mencionam pagamentos aos jovens dispostos a promover quebra-quebras. Como dizia Garganta Profunda, fonte principal dos repórteres Carl Bernstein e Bob Woodward, que expuseram o escândalo Watergate, “follow the money” – sigam o dinheiro.
Não há grande segredo a desvendar: em suas páginas no Facebook, os cavalheiros falam abertamente de pagamentos. E já existem (embora ainda sem confirmação) listas de contribuintes dos black blocs, que envolvem de políticos a um juiz de Direito.
Seguindo as pistas
E, além de seguir o dinheiro, há dois outros caminhos abertos à investigação:
1 – Responder “a quem aproveita o crime”. Quem ganha com os black blocs nas ruas – e ganha tanto que investe recursos para que destruam bens dos outros?
2 – Seguir as pistas da reveladora reportagem Por dentro da máscara dos black blocs, de Leonel Rocha, revista Época, capa de 15 de novembro de 2013.
O repórter esteve no sítio de treinamento do grupo, a 50 km de São Paulo, e conversou amplamente sobre pessoas e entidades que financiam o vandalismo.
É difícil dar certo – Brasília
O estudo é da Cornell University, EUA: o Brasil tinha 21 ministérios em 2002. Em 2013, já estava com 39. Os Estados Unidos têm 15 ministérios.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.