(*) Carlos Brickmann –
Todos levaram na brincadeira e atribuíram a frase engraçada da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, a um ato falho: referiu-se à presidente da República como “presidenta Lula”. Ato falho, claro. Mas haverá algo de que a ministra sabe, e nós não, que a tenha levado a cometer este curioso equívoco?
Há um clima estranho em Brasília. Partidos normalmente submissos ao Governo – a qualquer Governo, especialmente ao de uma presidente voluntariosa como Dilma Rousseff – resolvem reunir-se publicamente para falar mal da chefa, da autoridade que detém o poder de nomear e demitir, da candidata à reeleição. O presidente da Câmara, o peemedebista Henrique Alves, cuja postura diante de Dilma faz com que o ministro Guido Mantega pareça um altivo dissidente, estava lá junto com expoentes de legendas famosas por sua coerência – sempre ao lado do Governo, seja qual for – como PP, PTB, PSD, PR, Pros, PDT, PSC, mais o Solidariedade, que agora é Aécio. Que é que levou a combativa turma do “sim, senhora” a falar mal de Dilma, deixar vazar a conversa e discutir a formação de um bloco que possa contrapor-se à motoniveladora parlamentar do Governo?
Desta vez, parece, não se trata de ameaçar com dificuldades para valorizar-se. Nem se pode esquecer que, pela pesquisa CNT, Dilma seria reeleita no primeiro turno. Bom, para Suas Excelências, seria ficar a seu lado. Por que não ficam?
Há algo diferente no ar. Sábias raposas garantem que Lula quer ser o candidato. Por Lula, Dilma desiste. Aí só faltaria a justificativa para trocar Ela por Ele.
Experiência de sobra
O jornalista Ricardo Noblat, mais de 30 anos de experiência em Brasília, publicou, sem citar fontes, mas assumindo as informações, este intrigante texto:
“Lula só pensa em suceder Dilma a partir do próximo ano. Dona Marisa só pensa no vestido da posse. O PT só pensa em como se livrar de Dilma”.
“Aliás, os políticos em geral, independentemente de partido, só pensam em ver Dilma pelas costas”.
“Isso quer dizer que Lula vai ser candidato do PT em outubro próximo? Bem, o futuro a Deus pertence.” Fonte:http://oglobo.globo.com/pais/noblat/
Fio de barba
Lula, citado pelo colunista Lauro Jardim (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/), assim comentou a possibilidade de substituir Dilma como candidata:
“Todo mundo me fala nisso, mas a candidata é ela”.
Os números da reeleição
O índice de intenção de voto em Dilma, na tradicional pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes, é excelente: 43,7%, vitória no primeiro turno. Melhor ainda, para ela, é o fraco desempenho de seus concorrentes: Aécio, PSDB, 17%; Eduardo Campos, PSB, com apoio da Rede de Marina Silva, 9,9%.
Professora do mundo
Quem sai aos seus não degenera: seguindo a presidente Dilma, que ensinou economia à primeira-ministra alemã Angela Merkel, indiferente às evidências de que a Alemanha tem indicadores melhores que os do Brasil, a ex-ministra Gleisi Hoffmann, do PT paranaense, resolveu partilhar seus conhecimentos com o Federal Reserve Bank americano. Gleisi prometeu apresentar no Senado um voto de censura à avaliação do Fed sobre a economia brasileira, que classifica como a segunda mais vulnerável numa lista de 15 países emergentes, atrás apenas da Turquia. Gleisi acusou o Fed de ter extrapolado seu mandato.
Os americanos, que deram o mandato ao Fed, não comentaram a Escolinha da Professora Gleisi.
O mestre da professora
O senador Cristovam Buarque, do PDT de Brasília, ex-ministro da Educação do presidente Lula, ridicularizou a Escolinha da Professora Gleisi. “Você pode dizer se um documento do Banco Central (função exercida pelo Fed nos EUA) está errado. Não pode julgar se é do bem ou do mal. Voto de protesto não se faz contra documento técnico”. Completou: se o protesto for recusado, é como o Congresso desse apoio ao Fed. “Se for aprovado, cairemos no deboche mundial”.
Buarque sugeriu a Gleisi esquecer o voto de censura às autoridades dos EUA.
Uva sim, Noruega não
A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, agendou audiência ao ministro das Relações Exteriores da Noruega, Börgen Blende, para as 10 horas do dia 20, quinta-feira. A Noruega tem o melhor Índice de Desenvolvimento Humano e a segunda renda per capita do mundo. Visita importante? Nem tanto: dez minutos antes do horário marcado para a audiência, o chanceler norueguês foi informado de que Sua Excelência, a ministra brasileira, tinha preferido mudar de ideia. Maria do Rosário viajou ao Rio Grande do Sul, deixando de lado a agenda oficial, para participar da Festa da Uva.
Mais do que ministra, Sua Excelência é candidata a deputada federal e isso é que é importante para ela.
Passeio, diárias
A proposta é da oposição: enviar uma comitiva de parlamentares à Holanda para acompanhar as investigações sobre pagamento de propina à Petrobras. Como poderiam os holandeses investigar sem o auxílio das Excelências brasileiras?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.