Faca amolada – Dilma Rousseff, a presidente, acionou a guilhotina palaciana para tentar escapar da enorme confusão que se formou a partir do escândalo da aquisição, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, obsoleta e que desde o início das negociações não atendia às necessidades da petroleira verde-loura. A polêmica ganhou força depois que o Palácio do Planalto divulgou nota à imprensa informando que Dilma que à época do negócio presidia o Conselho de Administração da Petrobras, autorizou o negócio com base em laudo “falho” produzido por Nestor Cerveró, então diretor da área internacional da empresa.
Depois da concretização do negócio, que custou aos brasileiros a pequena fortuna de US$ 1,18 bilhão, Cerveró foi contemplado com uma mudança de cargo, que na opinião de muitos é considerada uma promoção. Ele assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora.
Nestor Cerveró está de férias na Alemanha, mas uma reunião da BR Distribuidora decidiu demiti-lo do cargo, por determinação da presidente Dilma, que continua insistindo que foi enganada. A presidente apela à covardia ao afirmar que cláusulas contratuais foram suprimidas por Cerveró no laudo técnico. À porção desavisada da população Dilma Rousseff pode contar qualquer mentira, mas não custa lembrar que negócios desse porte são precedidos por “due diligence” – processo de investigação e auditoria nas informações de empresas, fundamental para confirmar os dados disponibilizados aos compradores e investidores. Sem esse processo nenhum negócio de grandes proporções é realizado ao redor do planeta.
A demissão de Nestor Cerveró já era esperada, mas a decisão do Palácio do Planalto deve complicar ainda mais a situação da presidente, que atirou contra o próprio pé ao querer explicar a compra da refinaria texana. Se publicamente Cerveró prefere não falar sobre o tema, nos bastidores ele tem se valido de interlocutores para mandar recados ao staff presidencial. Em todos os recados ficou claro que o agora ex-diretor da BR Distribuidora está disposto a contar o que sabe, até porque ele afirma que não será o bode expiatório do escândalo e nem pagará a fatura sozinho. Ou seja, Nestor Cerveró deverá subir ao patíbulo na companhia de muita gente.
A alegação de Dilma de que foi enganada foi prontamente desmentida por José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras à época da transação. Gabrielli afirmou, em entrevista, que as questionadas cláusulas contratuais são normais em negócios dessa envergadura. Fora isso, o ex-presidente da Petrobras afirmou de forma textual que Dilma não foi enganada a respeito do negócio.
Que José Sérgio Gabrielli não é um fã ardoroso da presidente todos sabem, mas Dilma Rousseff acabou colocando pelo menos dois homens-bomba em seu caminho. O primeiro deles é Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras e que foi preso na quinta-feira (20) pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, que desbaratou uma quadrilha que pode ter lavado aproximadamente US$ 10 bilhões. Costa sabe demais e por certo não permanecerá calado. O segundo homem-bomba é o próprio Nestor Cerveró, que se cair o fará atirando para todos os lados, mesmo que isso não ocorra em público.
O mais estranho nessa nova epopeia de corrupção com a chancela do PT é que o caso não é novo e desde 2008 o Palácio do Planalto sabia do escândalo. Se de fato algo errado houve na aquisição da refinaria de Pasadena, o governo deveria ter determinado que a PF investigasse o caso imediatamente. Considerando a data da compra da refinaria e a da descoberta do escândalo, não é errado concluir que Lula sabia de tudo, assim como Dilma, que na ocasião era chefe da Casa Civil. O Palácio do Planalto não apenas fechou os olhos para o caso, mas instalou Nestor Cerveró na diretoria financeira de uma importante subsidiária da Petrobras.
O que é inaceitável nesse caso é, passados seis anos da descoberta do escândalo, Dilma Rousseff querer posar de inocente. Sempre lembrando que o silêncio de Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa vale fortunas.