(*) Carlos Brickmann –
1 – Paulo Roberto Costa, que era diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, um dos autores do contrato de compra da refinaria de Pasadena, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato, despertou suspeitas ao ganhar de presente de um conhecido doleiro uma Range Rover Evoque, no valor de R$ 200 mil. Range Rover – lembra do Mensalão, que também tinha o caso que ficou famoso de uma Land Rover dada de presente a um figurão da turma do poder?
2 – Paulo Roberto Costa era o homem forte do antigo presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que em sua gestão comprou a Refinaria de Pasadena. Costa e Gabrielli sempre foram muito ligados. Talvez hoje, quem sabe, Gabrielli, lá na Bahia, se sinta mais distante do velho companheiro caído em desgraça.
3 – Estão jogando a culpa do “resumo mal feito” do contrato de compra de Pasadena em Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras. Cerveró tem pura linhagem governista: foi indicado por Renan Calheiros. Cerveró, por coincidência, saiu de férias para lugar incerto e não sabido, talvez na Europa, na véspera da ação da Polícia Federal. Lembra de Henrique Pizzolatto, do Mensalão? Também viajou para a Europa. Pizzolatto tem dupla nacionalidade. De Nestor Cuñat Cerveró, até agora, não se sabe se tem uma nacionalidade ou mais.
4 – Ah, a família! Letícia Mello, a jovem e brilhante filha do ministro Marco Aurélio, do STF, foi nomeada desembargadora do Tribunal Regional Federal-2 por Dilma. Como diz o provérbio, quem agrada a meus filhos adoça meus lábios.
Diga-me com quem andas…
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, criação do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, começou seu trabalho tentando fazer esquecer os feitos do antecessor, Alexandre Padilha. Sua primeira missão foi um vasto tour no Carnaval, em companhia da esposa, a bordo de jatinho da FAB. A explicação é que foi a Rio, Salvador, Recife e Olinda para distribuir camisinhas (algo que os postos de saúde fariam com mais eficiência, a custo mais baixo, sem sobrecarregar a já insuficiente frota da FAB).
Mas não ficou nisso: deixou seu carro oficial por seis horas na vaga reservada a deficientes físicos, no Congresso. Chioro seguiu o exemplo de seus orientadores políticos: disse que não sabia de nada. E pôs a culpa no chofer. Esse ainda vai pegar uma bela multa e perder muitos pontos na carteira.
…e te direi quem és
Seu antigo colega de Secretariado de Marinho, Benedito Mariano, foi flagrado em alta velocidade no acostamento da Via Anchieta, rodando em faixas privativas de ônibus e usando equipamento proibido, o Giroflex (aquelas luzes de teto privativas de viaturas policiais).
Ele também, claro, diz que não sabia de nada.
Dilma lá
A maioria absoluta do eleitorado, 64%, espera que o próximo presidente “mude tudo” ou “mude muita coisa” em seu Governo. Mas Dilma se mantém na pesquisa Ibope como favorita absoluta, com números que lhe dariam a vitória no primeiro turno: no pior dos cenários para ela, teria 40%, contra 13% de Aécio e 6% de Eduardo Campos. O resultado é aproximadamente o mesmo da pesquisa anterior; e, considerando-se que a campanha eleitoral dividirá as atenções com a Copa, a tendência de que não haja mudanças até outubro é muito forte.
A oposição se agarra a um índice: apesar de tudo, a maior parte do eleitorado não endossa a candidatura de Dilma, dividindo-se entre votos brancos, nulos, a abstenção e os demais candidatos. Se todo mundo comparecer, desistir de votar em branco e nulo e se unir em torno de um dos candidatos, terá chance de derrotá-la.
Tudo caro
O ator e músico Hugh Laurie, o Doctor House, hospedado no Copacabana Palace, se assustou com os preços no Brasil. O colunista Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio, teve acesso ao twitter dele: “Os preços daqui são muito altos. Cerveja, biquíni, água de coco, tudo no Rio custa uma fortuna”.
Laurie conhece boa parte do mundo e ganha bem. Se está assustado com os preços é porque tem motivos.
Boa notícia
Com 2,5 milhões de assinaturas, acaba de chegar ao Congresso um pedido de isenção de impostos para remédios. Já existe no Senado um projeto neste sentido, do senador Paulo Bauer, PSDB de Santa Catarina, mas não há jeito de colocá-lo em votação. Certa vez, o grande Joelmir Beting fez um estudo comparativo e descobriu que medicamentos veterinários pagam menos da metade dos impostos que incidem sobre remédios para seres humanos.
E definiu a questão com uma frase definitiva: “É melhor entrar na farmácia latindo do que falando”.
Pois é
De tanto viajar pelo Brasil em campanha eleitoral – quer dizer, em avaliação de problemas e discussões com a população sobre as alternativas disponíveis – a presidente Dilma Rousseff acaba se confundindo. Outro dia, em Belém, disse:
“Aqui no Estado do Ceará… não, no Estado do Pará. Desculpa, gente. É que fui pro Ceará, tá? Ontem eu tava no Ceará. Aqui eu não falei uma coisa. Ah, não, falei sim, né?”
Será que sua equipe já inclui aquele tradutor do Nelson Mandela, especializado em transmitir frases como essa em linguagem de sinais?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.