Pensar pra quê?

(*) Lígia Fleury –

ligia_fleury_04Consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais, documento formulado em 1997 pelo MEC para orientar a reorganização curricular, que “Ao final do Ensino Médio, espera-se que os alunos saibam usar a Matemática para resolver problemas práticos do quotidiano; para modelar fenômenos em outras áreas do conhecimento; saibam apreciar a importância da Matemática no desenvolvimento científico e tecnológico. A forma de trabalhar os conteúdos deve sempre agregar um valor formativo no que diz respeito ao desenvolvimento do pensamento matemático. Isso significa colocar os alunos em um processo de aprendizagem que valorize o raciocínio matemático – nos aspectos de formular questões, perguntar-se sobre a existência de solução, estabelecer hipóteses e tirar conclusões, apresentar exemplos e contra-exemplos, generalizar situações, abstrair regularidades, criar modelos, argumentar com fundamentação lógico-dedutiva. Também significa um processo de ensino que valorize tanto a apresentação de propriedades matemáticas acompanhadas de explicação quanto a de fórmulas acompanhadas de dedução, e que valorize o uso da Matemática para a resolução de problemas interessantes, quer sejam de aplicação ou de natureza simplesmente teórica…” ”Nesse sentido, o propósito do Ministério da Educação e do Desporto, ao consolidar os Parâmetros, é apontar metas de qualidade que ajudem o aluno a enfrentar o mundo atual como cidadão participativo, reflexivo e autônomo, conhecedor de seus direitos e deveres.” Paulo Renato de Souza (então Ministro da Educação e do Desporto, 1997)

Qual a explicação para mais um péssimo resultado do Brasil no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos)? Estamos em trigésimo oitavo lugar entre 44 países avaliados no quesito capacidade para a resolução de problemas matemáticos relacionados à vida prática, ao cotidiano.

Quase vinte anos após o estudo que originou as diretrizes para o ensino curricular nas escolas brasileiras, avalia-se que somos péssimos nos critérios definidos pelo MEC como prioritários para serem desenvolvidos em sala de aula.

Temos lido e assistido, de camarote, o descuido com a Educação, a depredação nas escolas, a falta de vagas para alunos, o índice de analfabetos, a precária formação dos professores, a falta de valores instituída na nossa sociedade, a baixa remuneração ao educador, as redações nos vestibulares que são piadas na internet e outros tantos crimes cometidos contra nós mesmos.

Aluno mal orientado, mal formado, é mão de obra não qualificada, é índice alto de desemprego ou subemprego, é porta aberta para a criminalidade. Ora, se há quase duas décadas foram estipulados critérios a serem seguidos para que o objetivo maior da Educação – formar cidadão consciente, reflexivo e atuante na sociedade – fosse alcançado, como se justifica tanta desqualificação no PISA? A resposta, todos sabemos, é o descaso com a população.

Tenho a sensação de que no Brasil, as leis, normas ou orientações são mesmo feitas para não serem cumpridas. Faz-se um estudo com especialistas altamente competentes, elabora-se um documento a ser seguido, é de nosso conhecimento que o ensino precisa seguir esta diretriz para que jovens tornem-se profissionais capazes de solucionar problemas e, ainda assim, estamos nos últimos lugares do planeta em Educação. Para quê? Quando todos irão perceber que Educação é a máquina para alavancar a economia de um país? Sem falar da honra e do orgulho de ser cidadão de um país reconhecido por seus méritos, pelo seu crescimento econômico e não pelo futebol…

(*) Lígia Fleury é psicopedagoga, palestrante, assessora pedagógica educacional, colunista em jornais de Santa Catarina e autora do blog educacaolharcomligiafleury.blogspot.com.