(*) Carlos Brickmann –
Obras públicas no Brasil. Aqui há alguns casos de lentidão. A transposição do rio São Francisco, que deveria estar concluída em 2010, ainda está em obras, mas um dia certamente ficará pronta. O trem-bala, que deveria estar pronto para a Copa, ou para as Olimpíadas, ainda não foi sequer licitado. Mas, de acordo com o Ministério do Planejamento, suas obras estão em “andamento adequado”.
Obras públicas fora do Brasil. Depois do Porto de Mariel, em Cuba, construído com financiamento do BNDES brasileiro (e concluído no prazo), vem aí um novo campeão de infraestrutura: a hidrelétrica de Tumarín, Nicarágua – país governado pelo bolivariano Daniel Ortega. Custo orçado? Perto de US$ 1 bilhão. Obra a cargo de uma grande doadora de campanhas, a Queiroz Galvão. Financiamento do BNDES, que buscará acordos com o BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, e o Banco Mundial. Os nicaraguenses não terão gastos, é tudo por nossa conta. O acordo foi discretamente assinado em 21 de março. Pelo Brasil, os signatários são, entre outros, Valter Cardeal, da Eletrobrás, e o presidente da Queiroz Galvão, José Diniz da Silva Filho. Pela Nicarágua, Francisco López, da empresa de energia Alba e tesoureiro do partido governante, o Sandinista.
Investigações sobre irregularidades. A Justiça rejeitou a segunda denúncia contra executivos acusados de montar um cartel na área de Metrô e trens metropolitanos em São Paulo. Motivo: a apuração, mesmo com ajuda da Siemens, uma das empresas envolvidas, demorou tanto, mas tanto, que o caso está prescrito.
As escolhas de Gleisi
O principal candidato a coordenador da campanha de Gleisi Hoffmann ao Governo do Paraná, pelo PT, era Eduardo Gaievski. Foi preso sob acusação de abusar sexualmente de menores. Foi substituído por novo coordenador, um peso-pesado, que já tinha coordenado a campanha de seu marido, o hoje ministro Paulo Bernardo, a deputado federal: vice-presidente da Câmara dos Deputados, secretário de Comunicação do PT, ousado a ponto de tuitar que queria “dar uma cutovelada”, escrito desse jeito mesmo, no ministro Joaquim Barbosa, que visitava o Congresso.
Um trator! E cheio de bons amigos. Seu nome, André Vargas.
Gleisi não tem tido sorte ao escolher seus coordenadores de campanha.
Esfolando os doentes…
Não faz muito tempo, este colunista publicou no Observatório da Imprensa uma série de casos de mau atendimento a clientes por seus planos de saúde. O colunista Elio Gaspari, insistentemente e com grande brilho, vem mostrando como é que o sistema privado suga verbas da saúde pública. O jornalista Ricardo Kotscho conta o seu caso, recentíssimo: quebrou o braço num acidente, fez uma operação de seis horas, gastou R$ 36 mil e teve reembolso de R$ 1.575,00 (a propósito, é cliente antigo do seguro-saúde).
Qual a força que têm as empresas para atender tão mal e ficar sempre livres de problemas?
…e retribuindo aos amigos
Uma boa pista sobre a impunidade de quem atende mal aos doentes acaba de aparecer na Câmara: numa Medida Provisória que trata de tributação de empresas brasileiras no Exterior, nobres deputados enxertaram algo que não tem nada a ver com isso, com o objetivo de reduzir as multas que os maus planos de saúde eventualmente venham a sofrer. Se um plano de saúde cometer de duas a 50 infrações e for multado por elas, pagará apenas duas multas. Acima de mil multas, pagará vinte.
Traduzindo em reais: se uma operadora negar uma cirurgia legítima, pode ser multada em R$ 80 mil. Se for multada 50 vezes, a conta será de R$ 4 milhões. Será, não: seria. Pela Medida Provisória, cai para R$ 160 mil. Se houver mil multas, em vez de R$ 80 milhões a má operadora pagará R$ 1,6 milhão e fica por isso mesmo. Atender mal aos clientes vira um negócio ainda melhor.
A festa de sempre
A Medida Provisória foi aprovada na Câmara (sendo relator o deputado Eduardo Cunha, do PMDB fluminense) e vai agora ao Senado. A grita dos meios de comunicação, mais alguma pressão dos eleitores, talvez derrube o absurdo.
Mas ainda restará algo a resolver: de janeiro a agosto do ano passado, as operadoras de planos de saúde pagaram apenas 20,7% das multas que sofreram.
E se der certo?
Quase ninguém quer a CPI da Petrobras: os políticos têm compromissos ou com o Governo, ou com empresas fornecedoras, ou com ambos, a não têm qualquer interesse em ver essas ligações escarafunchadas e divulgadas pelos meios de comunicação.
Mas acidentes acontecem: uma falha dos operadores políticos, alguém que se julgue prejudicado, um parlamentar que esteja mais interessado em atingir o adversário do que em preservar-se, nada é impossível (Roberto Jefferson, lembremos, ao lançar-se ao ataque acabou também parando numa Papuda). Uma CPI, com o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró louco para vingar-se dos que o menosprezaram, pode mexer no clima político – e não falta muito para a eleição.
A luta continua
Mesmo se houver CPI há como abafá-la. Em 2009, foi criada uma CPI da Petrobras. O presidente Lula pôs Romero Jucá de relator. A CPI não deu em nada.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.