Sol quadrado – O caminho do deputado André Vargas (PT), ex-vice-presidente da Câmara e coordenador da campanha de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná, para a cadeia passa pelo crime de falsidade ideológica com fins eleitorais, dizem fontes ligadas ao STF. O deputado, que é suspeito de ser o sócio oculto do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato, montou uma intrincada engenharia financeira para disfarçar a origem dos recursos que abasteceram suas campanhas e as generosas doações que fez para montar uma bancada do PT no estado sulista. Nas falhas desses esquemas está a chave que pode levá-lo a contemplar o nascer do astro-rei de forma geometricamente distinta.
O inquérito sobre crime de falsidade ideológica para fins eleitorais é relatado pelo ministro Teori Zavascki (STF), que já concluiu que o petista transformou sua conta oficial de campanha em um duto para que doações de origem espúria fossem distribuídas a outros candidatos da legenda. Perto de R$ 900 mil de origem desconhecida foram repassados a candidatos só no Paraná. A investigação do caso, que está em curso no Supremo, tem por objetivo descobrir a origem dos recursos que passaram pelas contas eleitorais de Vargas e abasteceram o caixa de “companheiros”.
No Paraná, Vargas, o deputado favorito do doleiro Alberto Youssef, financiou a campanha de toda a bancada estadual do PT, a começar pelo presidente do partido, deputado Enio Verri. Outros felizes beneficiários da criminosa generosidade de André Vargas foram os deputados estaduais Tadeu Veneri, Luciana Rafagnin, Professor Lemos, Toninho Wandscher, Péricles Mello e Elton Welter. Todos eles estão com as respectivas contas de campanha sob minuciosa investigação, com direito a cruzamento de dados e checagem rigorosa pelo STF.
Assessores técnicos do ministro Teori Zavascki já notaram diversas incongruências nas contas de André Vargas e nas doações que o parlamentar fez e recebeu na campanha de 2010. As doações feitas por Vargas (R$ 893,9 mil) superam de longe o patrimônio pessoal declarado pelo deputado em 2010, que não passava de R$ 572 mil. Além disso, correspondem a quase o dobro do que o deputado teria gasto na própria campanha (R$ 468 mil). Indícios evidentes de que as contas do deputado, apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), muito mais escondem do que revelam.
Casal 20 na mira
Também está sendo dissecada a prestação de contas do ministro Paulo Bernardo (PT) na campanha de 1998, em que André Vargas, então seu coordenador de campanha, acabou réu, junto com o doleiro Alberto Youssef, em processo sobre caixa dois.
Para a revista Veja, Vargas insinuou, com a sutileza de um elefante rechonchudo, que Bernardo é beneficiário do propinoduto da Petrobras, além de ter, juntamente com Gleisi Hoffmann, ligações profundas e nada republicanas com a agência de publicidade Heads, de Curitiba, dona da maior parte da publicidade do governo federal no estado. Casada com Paulo Bernardo, a arrogante Gleisi aparece como doadora da campanha de André Vargas na eleição de 2010. É nas contas de campanha que está o enigma que poderá encurtar o caminho do amigo do doleiro à cadeia.
Justiça incentiva a corrupção
Um dos fatores que colaboram para o avanço da corrupção no País é a cegueira do TSE diante das prestações de conta entregue pelos candidatos. No caso dos gastos de André Vargas na campanha de 2010, o valor de R$ 468 mil é insuficiente até mesmo para eleger um vereador em Londrina, reduto político do petista.
Naquele ano (2010), Vargas foi o terceiro candidato a deputado federal mais votado do Paraná, com pouco mais de 150 mil votos. Para alcançar essa quantidade de votos, o petista gastou pelo menos R$ 7,5 milhões, o que significa que cada voto lhe custou R$ 50, valor considerado normal nos bastidores da política nacional.