Lançamento de fotobiografia de José Richa não deve ter a presença do corretor dos poderosos

(Ivan Bueno)
(Ivan Bueno)
Menos um – Nesta segunda-feira (19), a partir das 18h30, a Assembleia Legislativa do Paraná será palco do evento de lançamento do livro “José Richa – Imagens e História de um político de verdade”, fotobiografia do pai do atual governador do Paraná, Beto Richa (PSDB).

A obra é de autoria de Ivan Bueno, que durante nove anos foi o fotógrafo oficial de José Richa. O autor do livro recuperou várias fotos de Richa, desde a infância até o final de sua trajetória política.

De acordo com informações divulgadas pelo PSDB, Bueno acompanhou todas as campanhas eleitorais e a campanha pelas eleições diretas. Nesse período, viajou na maioria das vezes no mesmo avião que José Richa. O fotógrafo registrou momentos decisivos da história política nacional, inclusive as reuniões de Richa com os demais líderes da oposição ao regime militar, entre eles Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Dante de Oliveira.

Estarão presentes ao lançamento do livro, em Curitiba, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Euclides Scalco, Bruno Covas (neto de Mário Covas) e o senador Aécio Neves, entre outros tantos tucanos de fina plumagem.

Possivelmente o livro não traz imagens do cearense José Lírio Ponte Aguiar, conhecido em Brasília, durante a era FHC, como o corretor imobiliário dos poderosos. Em maio de 2002, portanto há doze anos, José Lírio foi à Procuradoria da República no Distrito Federal porque soube que era alvo de investigação por parte do órgão. Já no MPF, Lírio soube que procuradores investigavam sua meteórica evolução patrimonial.

Quem é José Lírio?

Em 2005, o corretor havia declarado patrimônio de R$ 500 mil. Ao longo desses sete anos, o corretor dos poderosos comprou pelo menos 76 imóveis em seu próprio nome ou no de uma irmã aposentada, de acordo com pesquisa realizada pelo Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Fazenda. O valor total declarado nas escrituras, sem correções, era de exatos R$ 23.136.000,00. À época havia também sete veículos registrados em seu nome, sendo três Mercedes e uma BMW. José Lírio era um dos grandes criadores de cavalos de corrida do País. Na ocasião ele possuía 180 cavalos e mantinha nada menos do que 128 cocheiras no seleto e caro Jóquei Club do Rio de Janeiro. Pelos cálculos dos procuradores da República, o patrimônio do corretor chegava à casa dos R$ 60 milhões.

José Lírio Ponte Aguiar chegou à capital dos brasileiros em 1961, não demorando a perceber que para sobreviver no centro do poder era preciso estabelecer uma excelente rede de relacionamentos. Seu ingresso no círculo dos poderosos se deu a partir de 1987, por ocasião da Assembléia Nacional Constituinte. Naquele tempo, José Lírio organizava os jogos de futebol para políticos na mansão do deputado Wigberto Tartucce, o Vigão, dono da empreiteira W. Tartucce e responsável por patrocinar serestas sertanejas para a turma da República de Alagoas, como eram conhecidos os integrantes do governo de Fernando Collor de Mello.

Nas peladas que organizava com certa regularidade, um dos frequentadores assíduos era o então senador José Richa, fundador do PSDB e então coordenador da campanha presidencial de José Serra. O presidenciável tucano precisou de pouco tempo para se encantar com José Lírio.

Coube a Richa introduzir José Lírio na cúpula do PSDB. Além de Serra, o corretor foi logo apresentado a Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e ao ex-ministro Élcio Álvares. No governo de Mário Covas, em São Paulo, o corretor intermediava negócios e agia como lobista, de acordo com depoimento prestado à Procuradoria da República, na condição de testemunha, por Sebastião Valadares, empresário do setor de construção civil.

Aos procuradores, Valadares relatou fatos envolvendo a finada Vasp e a Via Engenharia, que mantinha contratos para a construção de casas populares com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do governo paulista. Fora isso, a Via Engenharia, de propriedade de José Celso Gontijo, é sócia minoritária do consórcio AutoBan, concessionária que administra as rodovias estaduais paulistas Bandeirantes e Anhanguera.

Sobre a Vasp, a testemunha acusou José Lírio de ter intermediado a renegociação de uma dívida de R$ 900 milhões junto ao Banespa. Sobre a Via Engenharia, Valadares acusou o corretor de receber comissões sobre o faturamento do pedágio da AutoBan. Valadares afirmou ainda que, em 1997, José Lírio teria adquirido quatro apartamentos da Via, com pagamento à vista e em espécie. Coincidentemente, na mesma data, em São Paulo, a Via foi vencedora na licitação dos pedágios, disse Valadares no depoimento.

Sempre agradável e solícito, Lírio acabou conquistando a amizade de vários tucanos, a ponto de Luciana Cardoso, uma das filhas de FHC, ter escolhido o corretor como seu homem de confiança. Certa feita, Luciana outorgou procuração a Lírio para que vendesse dois apartamentos em Brasília e, na sequência, comprar outros imóveis na capital federal. O mesmo tinha feito, à época, o casal Fernando Henrique e Ruth Cardoso.