Face lenhosa – Chega a ser descomunal a desfaçatez do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL), que nesta segunda-feira (26), em discurso na tribuna do Senado, negou qualquer envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.
Suspeito de ter recebido dinheiro de Youssef, o senador alagoano disse que não conhece e jamais manteve qualquer relação política ou pessoal com o doleiro, que segundo a PF comandava um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado aproximadamente de R$ 10 bilhões.
“Quanto ao Youssef, posso afirmar de modo categórico, que não o conheço e jamais mantive com ele qualquer relacionamento de ordem pessoal e política”, declarou Collor.
Na última semana, o juiz federal Sérgio Moro, do Paraná, responsável pelo processo decorrente da Lava-Jato, informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que policiais apreenderam no escritório de Youssef oito comprovantes de depósitos em conta bancária de Fernando Collor. O juiz destacou, no entanto, “que não há qualquer indício” do envolvimento do senador com o esquema criminoso investigado pela Polícia Federal.
“O principal teor do expediente do juiz Sergio Moro ao ministro Teori Zavascki foi sua taxativa declaração de que não há qualquer envolvimento meu nos oito inquéritos da Polícia federal vinculados àquela operação [Lava Jato]. E isso é de fundamental e importância e merece realce”, enfatizou.
Fernando Collor não foi apeado da Presidência da República apenas porque é um inocente injustiçado, mas, sim, porque permitiu que a corrupção corresse solta durante os dois anos em que esteve no Palácio do Planalto.
É preciso dar um voto e confiança à alegação de Collor, até porque, por exemplo, nem todos que vão à casa de um traficante são usuários de drogas ou comercializam o produto de alguma maneira. Ou seja, os depósitos feitos por Youssef na conta do senador não o vinculam ao esquema criminoso que vem chacoalhando o País.
Contundo, soa estranho o fato de Fernando Collor ter recebido em sua conta bancária depósitos feitos por um doleiro que ao longo dos anos foi protagonista de diversos escândalos, além de operar no mercado paralelo de câmbio. O máximo que pode-se arriscar em relação ao caso é afirmar que por enquanto Collor não tem envolvimento no escândalo descoberto durante a Operação Lava-Jato. Mesmo assim, o senador precisa explicar os motivos que levaram o doleiro a fazer tais depósitos bancários.
O que não se pode aceitar é esse repentino e falso “bom-mocismo” de Collor, que normalmente, quando encalacrado, costuma fazer discursos coléricos, armação que não mais convence em terras verde-louras. O senador pode até negar que conhece Alberto Youssef, mas, em meio à crise, pelo menos metade da população adoraria receber depósitos polpudos de desconhecidos. O mais estranho é que os brasileiros foram capazes de eleger um cidadão desse naipe ao Senado da República. Enfim…