(*) Ucho Haddad –
Peço licença aos leitores para, valendo-me deste espaço, defender a honra e a trajetória do meu avô, Camillo Haddad. Nascido na Síria, em 10 de Agosto de 1904, e naturalizado brasileiro (em janeiro de 1934), formou-se em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Radicou-se na cidade de São Paulo, mais precisamente no bairro de Vila Prudente, na divisa das zonas Sul e Leste da capital paulista, onde já viviam seus pais.
Foi lá que ele construiu uma história valorosa e respeitada por muitos, apenas porque passou a maior parte do tempo dedicando-se aos mais necessitados. No consultório que durante décadas manteve na Praça Padre Damião, no mesmo bairro, atendeu gratuitamente pessoas sem posses e desvalidos. Muitas vezes seu consultório tinha mais gente à porta do que na fila do confessionário da igreja próxima.
Não bastasse o fato de atender sem cobrar, quase infindáveis foram as ocasiões em que tirou dinheiro do próprio bolso para garantir aos pacientes a compra do medicamento que prescrevia. Médico dos bons e das antigas, daqueles que auscultava o coração do paciente com seu inseparável estetoscópio e acertava no diagnóstico. Atendia em casa e não sabia o que era sábado, domingo ou feriado. Todo dia era dia de ser útil ao próximo.
Admirado por sua dedicação incondicional e simplicidade elegante, meu avô, por decisão da vida, dela despediu-se ainda cedo. Morreu sem ver a conclusão da reforma de sua imponente casa, fincada no topo de íngreme ladeira e à época considerada um marco no então longínquo bairro paulistano. Foi-se sem avisar, mas deixou uma história a ser preservada.
Os anos se passaram e veio a primeira homenagem da prefeitura da capital dos paulistas. Uma rua do bairro, próxima à casa onde sempre morou, recebeu o seu nome: Rua Dr. Camillo Haddad. Homenagem justa para um homem que não só franqueou o consultório, mas abriu as portas do próprio coração a todos que diuturnamente o buscavam na esteira de alguma necessidade. Fez da Medicina uma profissão de fé, assim como é a minha relação com o jornalismo.
Mais recentemente, o governo do Estado de São Paulo decidiu também homenageá-lo após consultar os moradores da região. Prestes a ser inaugurada, a Estação Camillo Haddad do Metrô paulistano é mais um reconhecimento ao cidadão que fez questão de ser brasileiro e durante anos a fio ajudou como pode os que o adotaram como sendo um autêntico filho da terra.
Há dias, buscando na rede mundial de computadores informações sobre a data da inauguração da estação do Metrô, deparei-me com comentários desconexos de pessoas que certamente não conhecem a história e muito menos a trajetória de alguém que se dedicou ao próximo de maneira incansável. Questionava um internauta o motivo que levou o Metrô a batizar a estação com o nome do meu querido e saudoso avô, com o qual convivi alguns bons anos ao longo da infância.
Um desavisado postou comentário ofensivo, supostamente porque ignora os fatos. Sugeriu o leitor, em postagem numa rede social, que a escolha do nome da estação do Metrô se deu porque o homenageado tinha algum parentesco com o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, que nos escritos cibernéticos foi alvo de ofensa. Como cada qual colhe o que semeia, deixo a pendenga para o prefeito resolver, caso seja do seu interesse.
Deparo-me com tal constrangimento de maneira frequente, pois quase sempre sou indagado sobre eventual relação familiar com o alcaide da maior e mais importante cidade brasileira. Aos curiosos sempre respondo que a família Haddad é grande e, além disso, trata-se de nome comum nas Arábias. Aos mais insistentes, sempre com cavalheirismo e bom humor (ácido também), coloco um ponto final na questão lembrando que na família inexistem políticos e que tampouco há espaço para incompetentes. Afinal, Fernando Haddad é a “fulanização” da incompetência.
Dizia o meu saudoso pai que quando o sujeito é burro a única solução é pedir a Deus que o mate e que o diabo trate de carregá-lo. Não desejo o mal a Fernando Haddad, o poste de Lula, mas também não quero vê-lo pegando carona na bonita e respeitada história do meu avô, mesmo que isso aconteça no vácuo da desinformação de alguns que se decepcionaram com a política nacional e agora tentam passar o País a limpo a ferro e fogo, a fórceps.
Diz a sabedoria popular, mesmo burramente, que uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Nada pode ser mais esdrúxulo do que essa teoria do absurdo, que algum alarife por certo esculpiu no balcão do botequim mequetrefe mais próximo. Mesmo assim, Camillo Haddad foi um homem respeitável e respeitado, a ponto de ter o nome gravado em obras públicas. Diga-se de passagem, sem jamais ter solicitado favor a quem quer que fosse. Fernando Haddad, por sua vez, é desprovido de competência e está a anos-luz de ser alguém respeitável. No comando da quarta maior cidade do planeta, Fernando Haddad é simplesmente alguém. Nada mais que isso.
Eu sou Ucho Haddad, primeiro neto do respeitável Camillo e crítico contumaz do abominável Fernando. Diz o ditado que quem não pode não se estabelece, mas é bom lembrar aos passageiros que a próxima estação é Camillo Haddad. Sem gracinhas burras ou ilações descabidas.
(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.