Miopia política – O impasse na negociação entre o PSDB de Geraldo Alckmin e o PSD de Gilberto Kassab refletiu o “chove e não molha” que marcou a aproximação entre ambas as legendas na esfera federal. Os tucanos ofereceram ao PSD a vaga de vice na chapa encabeçada por Aécio Neves, candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, na esperança de que o partido do ex-prefeito Kassab desembarcasse da candidatura de Dilma.
Como essa hipótese sempre foi considerada remota, o PSD deve continuar apoiando o projeto de reeleição da presidente da República e se juntar, em São Paulo, ao peemedebista Paulo Skaf, candidato ao Palácio dos Bandeirantes e “Plano B” dos petistas para tentar despejar o PSDB do governo paulista.
Como o plano de ter Henrique Meirelles (PSD-SP) como candidato a vice fracassou, Aécio voltou a alimentar a possibilidade concorrer ao Planalto liderando uma chapa puro sangue. Ou seja, o candidato a vice também seria do PSDB. Essa possibilidade esteve em voga no ninho tucano até começar o flerte com o PSD, mas, faltando poucos dias para o prazo final de definição das chapas, o PSDB volta a insistir em um nome da própria legenda.
Diante desse cenário que recobra força nos bastidores, o tucanato decidiu incensar novamente o nome de Tasso Jereissati, ex-governador do Ceará e ex-senador pelo estado nordestino. As especulações em torno do nome de Tasso voltaram ao noticiário depois que o ex-senador visitou o presidenciável tucano em seu apartamento no Rio de Janeiro. Pode até ser um mero balão de ensaio, mas por trás da fumaça sempre há um foco de incêndio.
Longe da vitrine política nacional desde a eleição de 2010, Tasso pouco acrescentará à campanha tucana caso seja indicado para fazer dupla com o senador mineiro. Sua influência política encolheu de tal forma, que nem mesmo no Ceará ele é capaz de garantir a vitória de Aécio. O que mostra que a escolha de Tasso Jereissati pode ser um enorme equívoco por parte do PSDB, que prefere não abrir espaço para lideranças do partido que certamente engrandeceriam a campanha do partido rumo ao Planalto.
O melhor nome
Se a decisão da cúpula do PSDB contempla a escolha de um vice dentro do próprio partido, o nome mais recomendado é o do senador Alvaro Dias, do Paraná, como destaca o ucho.info desde 2010, quando José Serra concorreu à presidência e foi derrotado. À época, em mais um equívoco, o PSDB escolheu o então deputado federal Índio da Costa (RJ) para acompanhar Serra na disputa.
Alvaro Dias não apenas faz oposição competente e cerrada ao governo petista de Dilma Rousseff, mas é muito mais conhecido entre os eleitores brasileiros do que Tasso. O que facilita sobremaneira a vida e a agenda de um candidato que concorre ao governo de um país com dimensões continentais, como o Brasil, uma vez que a chapa pode se dividir para compromissos simultâneos em locais distantes e opostos, sem comprometimento da qualidade e dos objetivos da campanha.
O senador Aécio Neves tem até o próximo dia 30 de junho para decidir quem será o seu candidato a vice, tempo mais que suficiente para reflexões e mudanças, mas o nome de Tasso Jereissati tem a simpatia do tucanato paulista, em especial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que por prestigiar os integrantes de uma espécie de “sociedade dos poetas mortos” pode comprometer o projeto do PSDB de retornar ao Planalto.
O grande erro do PSDB está em acreditar desde já que desta vez a vitória nas urnas não escapará, o que explica a pouca importância que o partido vem dando ao fato de ter um vice com bagagem política e respeitabilidade. O máximo que se pode afirmar por enquanto é que o PSDB mostra-se irresponsável ao ignorar o nome de Alvaro Dias, político experimentado, de postura republicana e orador de primeira hora. Diz a sabedoria popular que o pior cego é aquele que não quer ver. E pelo jeito esse ditado transformou-se em mantra para boa parte dos tucanos.